domingo, 28 de outubro de 2007

NO ESCURINHO DO CINEMA

NO ESCURINHO DO CINEMA

No Félix Miranda entendemos que a sala de aula deve ser um espaço de integração constante entre o aluno e a sociedade.Através da arte cinematográfica o aluno pode tranpor os limites do quadro-de-giz e aumentar sua percepção de mundo a partir do estudo da sétima arte.

· “Cabaret” (EUA)
Uma cantora, um professor, um barão e uma Alemanha nazista. Ganhou Oscar. Liza Minelli canta muito bem e questiona a repressão, mostrando o modo de fugir das adversidades. Prestem atenção na cena onde ela e o professor (Michel York) gritam, abafados pela zoeira de um trem de ferro – puro mecanismo de defesa dos resilientes?

· “Adeus minha concubina” (CHA)
O painel de fundo é a complexidade de um país – a China. A Revolução Cultural de Mao Tsé Tung. Os vícios aos ópios. Dois meninos de rua sonham ser cantores da Ópera de Pequim e se tornarem famosos, ricos, e privilegiados. Eles sobreviverem a todo esse contexto – mas a que prêço? Discute amizade, amor, identidade – sempre social e históricamente construída. Atenção às seguintes cenas: a mãe corta o dedo do filho; o mestre implacável tortura o aluno resistente em apreender o ser feminino; a catarze da prostituta e as traições de acordo com a Revolução Cultural de Mao Tsé Tung; os dois garotos fogem do internato, e encontram na rua uma aprsentação da Ópera de Pequim e um diz o seu desejo; o país, apesar dos pesares, se modifica para melhor; a prostituta – a outra – cuida dos dois atores; a concubina delata’a concubina negaocia o amor do mesmo “rei” com a outra; uma outra identidade é construída; uma nova estética emerge e os atores são obrigados a se adaptarem etc.

· “Lição de amor” (BRA)
Uma alemã no Brasil (Liliam Lemmertz) educa garotos de família de ricos brasileiros. O conteúdo de sua aula: Amor e sexo. Por que uma “ froelaim”? Por que uma alemã se os alemães podem representar socialmente a friesa – e o refinamento?

· “Veludo Azul” (EUA)
Um rapaz ingênuo encontra uma orelha – significado: Escute a tua prórpia voz. Curioso o rapaz mergulha na procura do outro – de si – uma cantadora de uma boate que canta a canção que dá título ao filme. Curioso – como um cientista – ele começa a observar e descobre que deve sair do armário e participar da cena da vida.
Com a belissíma atriz Isabela Rosselini, filha de Ingridi Bergman e Roberto Rosselini.

· “Beleza Americana”(EUA)
De chofre ficamos a saber que o personagem central morreu assassinado. Por quem? O que aconteceu? Muito cinismo, num EUA moralista, dúbio... Por que a beleza é americana?

· “Deus e o diabo na terra do sol” (BRA)
Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha, com Geraldo D’El Rey, Othon Bastos, Maurício do Valle, Yoná Magalhães e Sonia dos Humildes.
Filme-ópera que rompe com os cânones narrativos do cinema brasileiro para instaurar uma estética dilacerante onde estão em simbiose a tragédia sertaneja, plena de ecos gregos, e a expressão lancinante de brasilidade, onde, num toque original e impactuante, a influência de vários cineastas (Ford, Kurosawa, Buñuel, e principalmente Eisenstein - a matança dos beatos é nitidamente influenciada pela seqüência da Escadaria de Odessa de O encouraçado Potemkin) se espraia num estilo personalíssimo.
Completa André Setaro (2004) que este filme traumatizou duramente o cinema brasileiro.
Prestem atenção na célebre cena: “Mais fortes são os poderes do povo”. Isso é dito no prenúncio dos Governos Militares no Brasil.
· “O Pagador de promessas” (BRA)
A fé, a traição, o cinismo da igreja. A ambição desenfreada. A sedução. Palma de Ouro em Cannes. Indicado Oscar filme estrangeiro.
· “O anjo loiro” (BRA)
Uma garota de cabaret e de programas conquista – sem o desejar – um professor e destrói toda a sua moral e família. Vera Fischer está linda, sustentando o seu idílio – filme datado na estética. Cenas leves de nudez.
· “Floradas da Serra” (BRA)
O mito Cacilda Becker – grande nome do Teatro – vai para Campos do
Jordão tratar-se de tuberculose. Lá conhece Jardel Filho – os olhos verdes voltaram – e se apaixonam.
Temas: terminalidade; amor e doença; proximidade e a construção do amor; influência européia no cinema brasileiro; burguesia e proletariado juntos e a luta de classes etc.

· “Toda nudez será castigada” (BRA)
Uma prostituta – Geni - deseja ser respeitada com dignidade.
Sua trajetória é amarga e dramática.
Texto de Nelson Rodrigues – crítico da classe média carioca. Denuncia a sexualidade, a hipocrisia, o homossexualismo – objetos de escárnios hipócritas e moralistas.
Sempre com sua ótica dúbia: moralista e libertadora.
Darlene Glória – uma das maiores estrêlas do Brasil e que só alcançou o status de atriz/ estrêla nesse filme – está maravilhosa, parecendo viver a própria vida.

· “Cidade de deus” (BRA)
Um ex-favelado se transforma em fotógrafo e começa fotografar-se a partir das gentes da favela e comunidade Cidade de Deus. Indicado a 4 Oscar.

· “Diário de motocicleta” (BRA)
Ernesto Ché Guevara é sensívekmente abordado por Walter Salles. Ché, em determinada cena, cuida dos hanseníanos – parece com São Francisco e Santa Clara! Veja o domínio estético do cinema brasileiro.

· ”Central do Brasil” (BRA)
Uma professora para sobreviver ao parco salário da aposentadoria (magistralmente interpretada por Fernanda Montenegro), acrescenta aos seus ganhos escrevendo cartas para os transeuntes analfabetos que circulam pela Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Ela faz pequenos delitos. Observem os diálogos. Prestem atenção nas seguintes cenas: Ela vende o menino para que lhe “roubam” os órgãos – essa cena chocou o público americano; a professora é consolada pelo menino ao sentir que foi abandonada pelo caminhoneuiro; a professora encontra seus encantos, e vai ao banheiro do bar, enfeitar-se e ser mulher – acena do batom é elogiada etc. Trata-se de uma viagem entre uma professora e um aluno dentro de si mesmos, a partir do mergulho no interior da nação – o nordeste esquecido, mas ainda cheio de amor e uma família ajustada e cheia de (com)paixão.

· ”O quatrilho” (BRA)
Moralidade é questionada. Um outro estilo de vista é posto à nossa frente. Indicado ao Oscar de filme estrangeiro.

· ”Eu, tu e nós” (BRA)
No nordeste uma mulher encontra possibilidades de ser feliz de um modo mais ameaçador às estruturas rígidas da família brasileira. Nós aceitamos pelo humor, mas saimos mais cínicos do que entramos. Por que?

· ”Intimidade” (BRA)
Uma estrêla de cinema e TV (Vera Fischer) é construída e mostra a dor e ansiedade desse lugar que ocupa.
Prestem atenção na cena dela no programa do Chacrinha – antigo apresentador de TV, muito “doido” – para a época - e psicodélico.
Veja a cena de Vera e Perry Salles na cama: Que livro ele está lendo? Será que lemos o título direito? Perry lê esse tipo de literatura refinada? Ai tem o dedo do diretor!

· ”Pixote” (BRA)
Uma instituição – Febem. Meninos juntos: amizade, amor...
Prestem atenção em duas cenas já “cult”: Marília Pêra dá de mamar ao Pixote; um menino do internato – homossexual – canta Caetano Veloso: “Eu vi o menino correndo/ Eu vi o tempo/ O tempo passou ao redor daquele menino ...”. Lindíssímo!

· “O amor está no ar”(BRA)
Dirigido pelo capixaba Amylton de Almeida que não o pode terminar por ter falecido de câncer.
Uma apresentadora de rádio é provocada por um fã, e o amor que ela tanto anuncia – ela mesma não o tem. Solidão e dor de ser - condição humana?
Prêmio melhor Atriz Oscarito/ Quiquito em Gramado.

· ”Anjos do arrebalde” (BRA)
Três professoras são ameaçadas – vivem na periferia de São Paulo, em plena década de 1980.
Faz severas críticas aos costumes da época. Serão apenas daquela época?
Discute: problemas financeiros; violência – dentro e fora da escola; problemas do cotidiano doméstico dessas mulheres; ética, estética e moralidade cínica: uma das professoras abandona o magistério, atendendo às exigências do marido, e passa ser dona de casa.
Betty Faria - lindissíma e, – pasmém – talentosa!
Clarisse Abujamra, Irene Estefânia – mito do cinema novo – e o galã – da época – Ênio Gonçalves.

· “Noites de Cabíria” (BRA)
Uma prostituta deseja casar, ter filhos... Mas é sempre iludida.
Masina está perfeita e talentosa.
Fellini – marido de Giulietta Masina – perfeito.
Oscar melhor filme estrangeiro. Recebeu o Ofício Católico de Cinema.
Prestem atenção: cena inicial dela ter sido jogada no rio e comparem quando ela (pré)sente e diz: “Que luz estranha!”.
Observem a cena que ela é hipnotisada.
E quando ela olha pela fechadura – abraçada com um cãozinho – o famoso ator, que não a deseja?
Na nova versão há uma cena de um voluntário (?) distribuindo sopa para os empobrecidos do pós guerra. Essa cena foi censurada pela Igreja.
Observe Masina dançando na rua e sua briga com uma prostituta “aloprada” e delirante, mas que lhe pontua a verdade de sua existência.
É antológica a cena onde Masina pede graças a Madanna – Nossa Senhora!
Tudo no filme é belo, “bacaninha” e profundo.
Tudo de bom!

· ”Alice no país das maravilhas” (EUA da Walt Disney)
Prestem atenção nesse filme que narra o ritual de passagem de uma menina para uma mulher.
Cena: Inebriada, a cobra interroga: “Quem és tu? Quem és tu?” E Alice responde:
“- Eu sou apenas uma menina!”.

· ”Filadelfia” (EUA)
Cinismo e luta pelos direitos de um portador do vírus HIV/ AIDS. Preconceito.
Prestem atenção: cena onde o soropositivo (re)interpreta – faz um comovente cover de “Mama Morta” trecho de ópera interpretada por Maria Callas.
Veja o impacto da (re)interpretação na subjetividade do advogado negro: identificação nas marginalidades!

· ”A Lista de Schindler” (EUA)
Anti-semitisto. Tolerância. Intolerância. A falácia da generalização de que todo alemão perseguiu os judeus. (Com)Paixão. Interprete: Cena preto e branco e as cores das rosas, da menina.

· ”Sociedade dos poetas mortos” (EUA)
Clássico. Um professor sonha(dor) e alunos instigantes.
Filme muito assistido – mas nem sempre bem analisado e apreendido.

· ”O carteiro e o poeta” (ITA)
O que é metáfora? Pergunta o carteiro ao poeta. A partir daí ele passa a produzir poesias e a se tornar consciente crítico.
O que é consciência ingênua?
O que é consciência crítica?
Como se dá essa passagem – de uma consciência para outra?
Leia Paulo Freire para enriquecer a percepção do filme. Talves: “Pedagogia do Oprimido” e “Conscientização”.

· ”Rain Man”(EUA)
Irmão autista mostra-se talentoso.
Os irmão se revêm e se reconhecem.
Novamente é um filme “batido” mas sem análise profunda.

· ”Perdidos na noite”(EUA)
Jovem sonha ficar rico prostituindo, mas Nova York não é a cidade tão receptiva como pensava.
Amizade entre homens é a temática desse filme.

· ”Gata em teto de zinco quente”(EUA)
Mulher – Elizabeth Taylor – é apaixonada por um rico herdeiro – o jovem e belo Paul Newman.
Ela é sistemáticamenet desprezada pelo marido, e sob tamanha pressão – ela deseja fazer sexo e ele fica impotente, a recordar de seu amigo que suicidou – ela fica gritando e reclamando como uma gata em teto de zinco quente – pulando, pulando...
Desesperada.
Um desejo que não se tem saciação.
Temas: Relações interpessoais; família e relações familiares; luto e morte; interesses econômicos e heranças; cinismos; crianças; fingimentos; homossexualidade velada; amizades masculinas sob suspeita etc.
Prestem atenção quando o sogro olha para o belissímo corpo da personagem – La Taylor – e diz: “- Nesse corpo corre vida!”.
Ela está mentindo que espera um filho do marido – desesperado pela amargas lembranças do amigo, seu único referencial de existir.

· ”Roberto Carlos em ritmo de aventura” (BRA)
Por incrível que pareça esse filme do Roberto é excelente – não apenas pelos saudosista do ídolo da Jovem Guarda, mas ainda assim muito romântico. Ele se mostra tímido, mas bom ator nesse seu primeiro papel para o cinema dirigido por Roberto Farias.
Temas: Amor; banalidade cotidiana; bom e mau/ bandido e mocinho; solidão adolescente; fixação pela imagem materna; feitiches: carros, botas etc.
Filme bem pautado em Help dos Beatles, o que coloca em xeque se houve originalidade ou não à Jovem Guarda – enquanto movimento artístico.

· "Tristezas do Jeca" (BRA)
Filme com Amácio Mazzaropi (1912-1981) de 1961 – dirigido também por esse famoso ator que fez linhagem com o personagem Didi, único de Renato Aragão.
Dois coronéis disputam apoio político do Jeca, que tem uma bela e ingênua filha querendo casar. Jeca faz com que pensem que ambos os políticos têm seu apoio.
Temas: ingenuidade; geitinho brasileiro; malandragem; corrupção etc.
Boa música - sertaneja.

· ”Talentoso Ripley” (EUA)
Um jovem e belo – Matt Damon – não deseja ser si mesmo. Deseja e é o outro. Eu quero ser o outro, parece dizer o personagem Ripley, que se apixona pelo outro de si.
Belissímo filme.
Esquizofrenia?
Pós modernidade nesses lugares? Nesses não lugares – sempre de passagem está Ripley?
Histrionismo?
Super-representação?
Pústula?
Homossexual mau resolvido?

· ”Beto Rockfeller, o filme” (BRA)
Direção: Olivier Perroy; argumento: Cassiano Gabus Mendes; roteiro: Bráulio Pedroso – autor da orininal telenovela; montagem: Lúcio Braum; Atores e atrizes: Luiz Gustavo, Plínio Marcos, Lélia Abramo, Cleide Yáconis, Walmor Chagas, Otelo Zeloni, Mila Moreira, Raul Cortez e outros.
Um clássico da novela – da antiga TV TUPI, na versão preto e branca de 4 de novembro de 1968 a 30 de novembro de 1969 – no cinema em 1970. Um mau carácter é o herói. Isso aconteceu na TV e o cinema tenta – e nem sempre consegue – captar esse clima em pleno governo militar.
Luiz Gustavo – jovem e com um rosto bonito, apesar de comum – prova seu talento. Vive com o sobrenome Rockfeller – família de milionários norte-americanos, poderosos e de franco domínio mundial.
Também trabalha como ator – na pele de Vitório – o dramaturgo Plínio Marcos – “Dois Perdidos Numa Noite Suja” e “Abajour Lilás” entre outras peças. Vitório era o melhor amigo de Beto Rockfeller (Luiz Gustavo). Em entrevista concedida à Folha, em 1993, Plínio afirmou: "nunca gostei de trabalhar. Só fiz 'Beto Rockfeller' para não ficar órfão – a gíria "ficar órfão" significava cair nas garras dos militares. Bete Mendes – lindissíma na juventude, também fêz Beto como Renata e “O Rebú” para não ficar órfã, apesar de ter sido presa e torturada – como revelou depois. Continua Plínio na Folha: “Quando me ofereceram o papel, pensei: se aceitá-lo, ganharei evidência. E, enquanto estiver em evidência, os milicos não me pegarão”.
Renato Roschel (2004) informa que Plínio era uma pedra no sapato dos militares que governavam o país. Ele o viam como um "inimigo do sistema". Seu crime? As peças "Dois Perdidos numa Noite Suja" e "Navalha na Carne", escritas entre 1966 e 1967.Para os militares, peças que traziam um mundo sem meias palavras, direto e convincente, que davam tratamento dramático à realidade de prostitutas, gigolôs e bandidos, poderiam servir à subversão. Sob o governo militar, "Barrela" também foi proibida, e, em 1970, "Abajur Lilás" foi censurada. (As duas obras só seriam liberadas em 1980.)Com todas as suas peças proibidas pelo regime militar, Plínio quase desistiu da carreira de dramaturgo.Na década de 80, quando o regime militar terminou e suas peças foram liberadas, Plínio novamente surpreendeu. Escreveu as peças "Jesus Homem" e "Madame Blavatsky" nas quais mostra um seu lado mais espiritualista. Em 1985, ganhou os prêmios Molière e Mambembe pela peça "Madame Blavatsky".
Entre suas obras estão: "Barrela" (1958), "Dois Perdidos Numa Noite Suja" (1966), "Navalha na Carne" (1967), "Quando as Máquinas Param" (1972), "Madame Blavatsky" (1985); “Rainha Diaba” (levada ao cinema em 1974, com Milton
Gonçalves, como um gay “a lá” Madame Satã).
Segundo o crítico e historiador de teatro, Décio de Almeida Prado (in Roschel, 2004), "Plínio tinha uma experiência humana ligada às classes pobres e levou esse mundo para o teatro, até então em grande medida desconhecido. O teatro dele não era exatamente político, de pobres contra ricos, mas trazia uma experiência amarga dos pobres, e isso representou uma grande novidade. 'Navalha na Carne' é uma peça com muita força, com três excluídos que sofrem e nos fazem sofrer".
Beto é o maior marco da telenovela – segundo alguns estudiosos da História da Televisão brasileira - que se repetia em temas mexicanos encontrando respaldo na cubana Glória Magadan – que fez estrêlas Yoná Magalhães e Carlos Alberto.
Temas: outros tipos e possibilidades de heróis; mau-caratismo; malandro brasileiro; amizade entre homens; etc.

· ”O tempo não para” (BRA)
Tema: O medo – ou não – da morte. Terminalidade e criatividade. Resistência umunológica e sentido da vida – muito além da aparência estética. Uso de drogas. Vontade de viver. Relação mãe e filho. Costumes e valores de um tempo – que não para. Sexualidade.
Aborda a bissexulidade em um sentido não preconceituoso, “(...) esse filme mostra ao professor a realidade do sofrimento humano e as possibilidades de se criar a partir dessa vivência (...) Ajuda ao professor também a trabalhar em si e nos seus alunos o preconceito aos gays, porque ‘rola sentimento’ e não apenas sexo por sexo. O gay é mostrado como ser de sentimentos e não um objeto, um ser na sociedade e História” (Carolina Moraes, capixaba de Vitória ES – pedagoga e estudante do Curso Normal Superior).

· “Invasões bárbaras” (FRA)
Doenças terminais. Opção de viver e de morrer. Relação pai e filho; professor e aluno. Questões políticas na construção da subjetividade. Choque entre estilos diferentes de vida.

· “Xixa da Silva”
Ações afirmativas de minorias. Negritude. Resiliência.
Zezé Mota – a maior estrela e diva negra do Brasil – está excelente. Prestem atenção quando a sua roupa cai, e a música de Jorge Bem Jor começa a tocar. Ali está uma estrêla!

· “Metropolis”(ALM) de Fritz Lang.
Filme de 1927, (re)visto com a música do ‘Queen’ – rock inglês. A cidade grande, o consumismo, a destruição de si e do outro, mecanicismo, domesticação dos corpos, capitalismo etc. Dominação das subjetividades. Fsantasia e fuga da realidade cruel.

· “Ópera do malandro” (BRA)
Malandragem, amor, suborno e marginália embalados pela belissíma música de Chico Buarque de Hollanda.

· “A mãe” (RUS) - de Vsevlod Pudovkin (1926)
Baseado em Máximo Gorki. Relação mãe-filho. Subjetividade e mudanças sociais. Na literarura: Um clássico. No cinema: Uma obra-prima, segundo Claude Beylie (1987).

· “O homem que copiava” (BRA) – de Jorge Furtado
André tem 20 anos e o segundo grau incompleto. É operador de fotocopiadora na livraria e papelaria J. Gomide, no 4º Distrito, em Porto Alegre. Mora com a mãe. Gosta de desenhar e gosta de Sílvia. André precisa desesperadamente de trinta e oito reais. Sílvia tem 18 anos. Estuda à noite e trabalha como balconista numa loja de roupas femininas. Mora com o pai, gosta de ler e não é muito de figo. Sílvia marcou um encontro no alto do Corcovado e não pode faltar. Marinês trabalha na papelaria, com André. Namora, mas não muito, um alemão que vive na Holanda. Marinês fica muito bem em vestidos que não tem dinheiro para comprar. Cardoso faz tudo por ela. E Marinês faz de tudo ou quase tudo com ele. Cardoso parou de fumar, há dois dias, a pedido de Marinês. Ele nem está sentindo muita falta do cigarro - só às vezes, depois do almoço. André faz muitos planos para conseguir dinheiro. E todos dão certo.

· “Armiño Negro” (ARG) de Carlos Hugo ChristensenUm filme argentino realizado em 1952, e lançado em 1953.
Uma mãe – que prostituí com clientes ricos e burguêses – cuida bem do filho, que – já adolescente - ao descobrir o ofício materno suicida-se.
A frase final – dita por um padre à mãe - ficou célebre: “Os pais pagam pelos pecados dos filhos”. Pura moral judaico-cristã.
A Argentina é realmente - depois da França – o país mais psicanalítico do mundo.
O filme é super-representado - muito mexicano pois – por isso muito atual.
Atenção para a beleza da atriz principal – famosissíma na História do Cinema argentino – Laura Hidalgo. O galã maduro é Roberto Escalada.
Temas: preconceito e dinheiro; poder das igrejas na construção do auto-conceito e da auto-estima (subjetividades); impacto desse processo preconceituosos no rendimento acadêmico etc.

· “Tudo sobre minha mãe” (ESP) – de Pedro Almodóvar
Temas: Profissionais de saúde e inversão de papeis: quando se transformam em pacientes; escolha profissional – a do filho, em ser escritor; AIDS; Doação de Órgãos; tolerância; revisão de vida; cinismo; ser mulher; bondade de estranhos etc. O Brasil é citado pelo travesti: “Pitangui”, fala com charme acerca desse famoso cirurgião plástico, sinônimo da subjetividade pós-moderna de ser alguém diferente de si.
Numa noite chuvosa, mãe e filho estão à espera – na porta de um teatro – da saída de Huma Roja, famosa atriz espanhola, que acabou de interpretar a louca professora de “Um bonde chamado Desejo”. La Huma - a belíssima atriz Marisa Paredes - sai brigando com seu “caso”/ namorada, uma aspirante a atriz, muito talentosa, mas temperamental por ser viviada em drogas. O menino sai correndo atrás para pedir um autográfo “a la dama del teatro”. Chove e os asfalto está molhado e deslizante. Huma olha para traz e vê o olhar sentido do fã – veja e lembre-se do trecho em que Bette Davis descreve um fã: uns cães que ladram e que querem roubar teu sangue, maléficos que são.
Naquele afã, ele não consegue o autógrafo e um carro o atropela e o mata. A mãe –que trabalha numa equipe de saúde que objetiva convencer ao vivo/ parente a doação de órgãos do morto – em desespero, corre e cobre a câmara com seu casaco vermelho, substituto do sangue. Significa: Uma mãe dáseu sangue ao filho. O choro é doloroso, e nunca um choro materno foi tão contundente como nesse filme!
Justo naquela noite o filho ia ser agraciado com outro presente: Conhecer tudo sobre seu pai!
O menino ganhou apenas o livro de Truman Capote – escute e interprete o prefácio do livro lido pela mãe – e a peça de teatro. Faltou o autógrafo e o conhecimento do pai.
Ele morre e deixa um presente para a mãe: Seu diário, onde conta sua itinerância em busca de sua vocação, a de ser escritor.
Uma mãe constrói o ofício do filho – ver Pinel (2001).

· “Fale com ela” (ESP) – de Pedro Almodóvar
Sobre o Cuidado e o cuidar. Os modos do ser humano cuidar dos seus modos de cuidar, para cuidar do outro, dos objetos, do mundo. Um enfermeiro, um amigo e uma mulher. Questões ética. Excelente participação – como em um clipe – de
Caetano Veloso, com direito aos dois atores principais de elogiá-lo. Há uma citação de um poema de Tom Jobim, de modo parecer tratar-se de um filósofo – que de fato, sob determinada ótico é. Numa tourada escutamos a voz de Elis Regina.

· “Bent” (EUA)
História sobre preconceitos, anti-semitismo, Nazismo, perseguição, amor, promiscuídade de Berlim em tempos de repressão nazista, negação de si mesmo e do amor, traição, assunção de si, subjetividade em tempos de totalitarismo etc.

· “Desprezo” (FRA)
Temas:corrupção, ambiente artístico, arte e consumo etc. Prestem atenção no desempenho de Brigitte Bardot – mais linda do que nunca. A cena em que ela desce a escada e repete “desprezo” é copiada por muitos outros cineastas e pelo povo francês – onde o cinema é muito popular.

· “A estrêla sobe”
Temática: Como se institui ou se constrói uma vocação? Ascensão de uma pessoas que se propõe cantora; o que é orientação profissional? É uma missão? É luta, é esforço. É concessão. Existirá vocação?
Melhor filme de Bete Faria – uma grande estrêla da TV, mas uma atriz em suspeita. Ela brilha nesse filme.

· “ Terra em Transe”
Filme de Glauber Rocha (1967), com Jardel Filho, Glauce Rocha, Paulo Autran.
Diz Setaro que ainda não se pode deixar de ver/ sentir esta obra-primíssima que retrata, num painel alucinante, o terremoto da política brasileira.
Obra de grande impacto em sua mise-en-scène, com seqüências audaciosas, é, também, um canto agônico, onde um poeta - dividido entre a política e a arte, no processo de sua lenta morte, após um tiroteio numa estrada, repassa o seu pretérito.
O filme, portanto, tem sua ação localizada na mente desse personagem enquanto dá seus últimos suspiros. Surpreendente sob todos os aspectos.

· “São Paulo S/A”
Película de Luís Sérgio Person (1965), com Walmor Chagas, Eva Wilma, Otelo Zelloni.
Setaro comenta. Vamos sentir?!
O Cinema Novo se desloca, aqui, do campo para a cidade.
Person realiza uma obra delicada e sensível onde a cidade paulistana se integra no conflito audiovisual, inserindo-se na estrutura narrativa do filme como um personagem.
Esta incorporação do ambiente ao tecido dramatúrgico é rara na cinematografia. Centro da metrópole, em plena era de industrialização, um homem perdido à procura de um sentido para a sua existência.
Exemplar!

· “ O Bandido da Luz Vermelha”
,Direção: Rogério Sganzerla (1967), com Paulo Villaça, Helena Ignêz, Luiz Linhares.
Carro-chefe do chamado Cinema Marginal - ou underground ou, ainda, udigrudi.
Um faroeste do Terceiro Mundo, na definição de seu autor, obra de estréia em longa metragem, um filme único na cinematografia nacional.
As imagens, desordenadas mas com uma cadência rítmica explosiva, aparecem, na estrutura narrativa, como a ilustração de um programa de rádio de classe Z.
Duas vozes narram a trajetória de um perigoso marginal da periferia paulistana.
O que se pode ver, neste filme extraordinário, é a apreensão, por um jovem cineasta de 21 anos, do melhor cinema praticado em décadas anteriores.
Radiofônico, como Welles, sincopado em sua montagem, como Godard, mas de uma boçalidade exclusivamente brasileira.
O autor assume a bregüice nacional com uma total non chalance, proporcionando, com isso, um retrato esculhambado por excelência, mas inteligentíssimo como expressão da arte do filme.

· “A Hora e A Vez de Augusto Matraga”
De Roberto Santos (1965), com Leonardo Villar, Jofre Soares.
O realizador venceu uma batalha mais forte do que a do seu personagem: adaptar, com poder de convencimento, uma obra de Guimarães Rosa.
Problemas de especificidades lingüísticas à parte, o fato é que o filme é deslumbrante na tentativa de descrever o universo rosiano por meio da força de um outro signo expressivo: o da linguagem cinematográfica.
Um grande momento para o Cinema Novo e para todo o cinema brasileiro.
Leonardo Villar – famoso ator - está como que inexcedível no papel título.

· “Absolutamente Certo”
De Anselmo Duarte (1958), com Dercy Gonçalves – maravilhosa - Anselmo Duarte, Odete Lara – lindissíma.
Em pleno domínio da chanchada, o maior galã do cinema nacional da época dirige o seu primeiro longa.
O resultado fica acima da expectativa, pois uma inteligente comédia de costumes que retrata, com graça e humor, a classe média paulistana.
Mas, mais importante que isso, é o cinema ágil, engraçado, com excelentes transições, de um ritmo frenético que acaba por funcionar como um trabalho que ultrapassa o espírito de sua época.
O realizador, anos depois, conquistaria a cobiçada Palma de Ouro no Festival de Cannes com “O Pagador de Promessas”.
Mas é aqui que se encontra o melhor do cineasta.

· “Vidas Secas”
De Nelson Pereira dos Santos (1964), com Átila Iório, Maria Ribeiro. Adaptação do romance homônimo de Graciliano Ramos.
Poucas vezes o cinema e a literatura puderam se dar as mãos em harmonia como nesta obra cinematográfica.
O livro parece um indicativo das imagens em movimento pela sua linguagem seca, sem floreios.
O diretor, precursor do Cinema Novo - Rio, quarenta graus, Rio Zona Norte, soube apreender as indicações da escritura romanesca, transformando-as em pura linguagem fílmica.
Desde a fotografia sem filtros, que denuncia a aridez da paisagem e o sol dominador, passando pelas rigorosas interpretações de Átila Iório e Maria Ribeiro, até o clímax da morte cansada da cadela, tudo é luz e maravilhamento.

· “Noite Vazia”
De Walter Hugo Khoury (1964), com Mário Benvenutti, Norma Bengell, Odete Lara, Gabrielle Tinti.
Um autor original no panorama do cinema brasileiro que, muito criticado pelos cinemanovistas pelas influências de Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni, conseguiu, como poucos neste país, revelar-se um verdadeiro autor na expressão exata do vocábulo.
Com um universo ficcional próprio e um estilo particularíssimo, com cada obra singular sendo uma variação de um mesmo tema - o macrofilme, que é toda a sua filmografia, Khoury enfrentou incólume as turbulências da crítica e hoje está estabelecido como um dos maiores cineastas brasileiros.
Noite Vazia investe na noite de São Paulo com seus personagens amargurados à procura de um significado para as suas existências desiludidas. Mas o que se faz notar no filme é uma emergência poética a cada instante, um domínio formal impressionante na condução da mise-en-scène. A seqüência da chuva na janela, em montagem paralela com as mulheres deitadas e o ovo que se estala no fogão, é uma das mais belas do cinema brasileiro.

· “Todas as Mulheres do Mundo”
De Domingos de Oliveira (1966), com Paulo José, Flávio Migliaccio, Leila Diniz, Ivan de Albuquerque, Irma Alvarez.
Nenhum filme brasileiro revelou tão bem o espírito de uma época como este delicado poema à mulher amada de um realizador em sua primeira incursão no universo das imagens em movimento.
Domingos se encontra em sua quintessência, dotado de um singular humor e uma capacidade intuitiva rara no estabelecimento de uma poética sobre o seu tempo.

· “Limite”
De Mário Peixoto (1930), com Olga Breno, Taciana Rei, Raul Schnoor. Clássico absoluto do cinema brasileiro.
Um filme que não se compara mas se separa.
Três pessoas viajam sem destino num barco e relembram o passado. Filme-mito, que provocou estesia e polêmica, realizado ainda na estética da arte muda por um jovem realizador que estreava, aqui, na direção cinematográfica e depois desse filme se trancou numa ilha para sempre. Obra essencial, visual, puro cinema, ou o cinema como música do olhar

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