segunda-feira, 29 de outubro de 2007

NOVOS OLHARES NO FÉLIX MIRANDA
GRUPO DE PESQUISA PROFESSOR-LEITOR



Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.
A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas de vida e da morte e que esperanças o animam.
Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.
Assim, cada leitor é co-autor.
Porque cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita.
Leonardo Boff
COLÉGIO FÉLIX MIRANDA – MÚSICAS
GRUPO PESQUISA PROFESSOR-LEITOR
FESTAS DE ARROMBA DO SAMBA
Por Fabio Gomes

Um dos maiores sucessos da Jovem Guarda foi "Festa de Arromba" (Roberto Carlos - Erasmo Carlos). Lançada por Erasmo Carlos em 1965 em seu LP A Pescaria (RGE), tornou-se o hino do movimento, sendo cantada ao final de cada programa Jovem Guarda na TV Record ao longo de quase três anos. Sua presença também é obrigatória em discos, shows ou programas que lembrem a época. Entre os ingredientes que contribuíram para tanto sucesso, certamente está a bem-humorada letra, na qual é narrada uma festa a que compareceriam os ídolos do nascente rock brasileiro, citados nominalmente - incluindo até um dos autores da música, Roberto Carlos (que teria chegado "de repente", "em seu novo carrão"). Esta menção a músicos vivos não era muito comum, menos ainda na quantidade em que ocorre em "Festa de Arromba": 16 na parte cantada, mais 7 na parte falada do final. Aliás, o finzinho tem sido cortado nas reedições recentes em CD desta gravação. Não se ouve muito bem Erasmo dizendo:
"Caramba! Até o Simonal, o Jorge Ben e o meu amigo Jair Rodrigues. A festa!"
Naturalmente, o samba, que já nasceu ligado a festa, também tem suas "festas de arromba". A primeira, inclusive, é bem anterior à de Roberto & Erasmo. "Primeira Linha" é de Heitor dos Prazeres e foi gravada por Benedito Lacerda (sim, cantando! Ele ainda tentava conciliar as carreiras de cantor e flautista, acabando por optar pela segunda) na Brunswick em 1930:
"O Mário Reis/ Ele é branco de verdade/ De grande capacidade/ E é um bom cantador./ E o Caninha, o Donga/ E o Pixinguinha/ São todos camaradinhas/ Inclusive o Sinhô./ Nesta função/ É melhor chamar o Freitas/ Porque nisso ele se ajeita/ O pagode fica bom./ Vem o Ary, o Vogeler/ E o Thomazinho,/ Que já conhece o caminho/ E a numeração do portão./ Eu convidei/ Também o Chico Viola/ Que é um rapaz da escola/ Danado pra vadiar/ Eu fiquei triste/ Quando vi o João da Gente/ Que é muito impertinente.../ Fez o pagode acabar."
Alguns dos citados na letra são facilmente identificáveis, casos de Mário Reis, Caninha, Donga, Pixinguinha e Sinhô. Outros compositores citados: "Freitas" era José Francisco de Freitas, autor de "Dorinha, Meu Amor"; "Ary" era o Barroso; "Vogeler" certamente se refere a Henrique Vogeler, um dos autores de "Linda Flor" (um outro Vogeler possível seria o cantor Jaime Vogeler, que começou a gravar em 1929, mas só foi se tornar conhecido do grande público em 1932). "Thomazinho" era J. Thomaz, ex-Oito Batutas e então líder do Brazilian Jazz. O pseudônimo "Chico Viola" era usado por Francisco Alves em suas gravações na Parlophon entre 1928 e 1931. Já "João da Gente" era como se assinava o cronista carnavalesco e compositor João da Silva Morgado, ligado ao Clube dos Democráticos e parceiro de Heitor dos Prazeres.
A menção a artistas vivos era raríssima na época, só se tornando comum na música brasileira a partir dos anos 60. Por isso, demorou muito para aparecer novos exemplares de "festas de arromba", como o samba "Casa de Crioulo", gravado por Gasolina. Não consegui localizar o nome do(s) autor(es) desta música, que me parece ser do final da década de 1970, pelas menções de Dona Ivone Lara, Délcio Carvalho e Sivuca (embora todos já tivessem décadas de atuação na música, o sucesso de "Sonho Meu", de Dona Ivone com Délcio, e "João e Maria", de Sivuca com Chico Buarque, tornou-os mais conhecidos nessa época) e principalmente pela menção a Cartola, falecido em 1980.
"Em casa de crioulo/ É um bolo danado/ Mas é lá que a gente sente/ Que o samba é bem marcado.// O Zé Vicente, bom crioulo, amigo meu/ Me chamou pra um feijão/ No domingo, lá fui eu./ E lá chegando, era grande a confusão/ Zé Vicente na viola, Tia Chica no fogão.// A toda hora, era servido um limão/ Nego saindo no tapa, nego deitado no chão/ Beto Cuíca, um pinguço da maior/ Quis temperar o feijão, bebo como ele só/ No corre-corre, o primeiro que chegou/ Salvou o Beto por um triz, mas o bicho sapecou/ (Diz...)// Lá pelas tantas, veja a turma que chegou/ Veio Martinho da Vila, Elizeth, o Imperador/ E a Clementina, que também é de Jesus/ Fez logo o sinal da cruz e o samba incrementou./ (Diz...)// (Olhaí, minha gente, olhaí, olha quem tá chegando. Jamelão! Olha o Jamelão aí, minha gente! Monsieur Blecaute! Até o Sivuca tá pintando nas paradas! É. Fala, maestro Nelsinho! Maestro Nelsinho puxando o trombone, olha lá. Jorginho do Império, garoto bom... Aparecida! É, dona Aparecida da macumba, tá bom. Dona Ivone Lara! Ah... Délcio Carvalho. Tá bom! Isso... Até o Cartola! Fala, Cartola! Fala, garoto bom! Fala, minha Mangueira! Isso...)"
O coro seguiu cantando o refrão em paralelo à parte falada do final da gravação, então fica difícil entender o tratamento que Gasolina deu a Blecaute, mas me parece ser "monsieur". Os nomes mencionados são facilmente reconhecíveis - "Elizeth", evidentemente, é a Divina Elizeth Cardoso -, à exceção do enigmático "Imperador" (quem???). Curiosamente, este é a única música citada neste texto que junta pessoas reais com personagens fictícios. "Zé Vicente", por sinal, é um personagem de larga trajetória. Ele apareceu na embolada "Cabocla de Caxangá" (João Pernambuco - Catulo da Paixão Cearense), de 1913, como uma das pessoas valentes do sertão de Jatobá (Pernambuco). Também foi o nome que Donga adotou no Grupo de Caxangá, organizado por Pixinguinha para animar o Carnaval na sociedade Tenentes do Diabo, no Rio de Janeiro, em 1919. Cada integrante do grupo tinha no chapéu o nome de um dos personagens de "Cabocla de Caxangá".
Com certeza, o samba mais famoso nessa linha é o clássico "Isso É Fundo de Quintal" (Leci Brandão - Zé Maurício), um dos maiores sucessos da carreira de Leci Brandão. A cantora estava há cinco anos sem gravar (!!!) e aparentemente a Copacabana não apostava muito neste partido-alto, que é a segunda faixa do lado A do LP Leci Brandão (1985). Mal imaginavam os executivos da gravadora que "Isso É Fundo de Quintal" seria uma das músicas mais executadas no Brasil em 1986.
"O que é isso, meu amor? Venha me dizer./ Isto é Fundo de Quintal, é pagode pra valer .// E lá vem o Sereno trazendo um recado do Ubirany/ Vem contando pra gente Bira Presidente vai chegar aqui/ Com uma cara de anjo tocando seu banjo o Arlindinho Cruz/ E Dona Ivone Lara essa jóia tão rara, tão cheia de luz/ E lá vem o Sombrinha fazendo harmonia com seu cavaquinho/ Vai versar um partido prum cara chamado Zeca Pagodinho.// Do Cacique de Ramos vai chegar o Cleber com seu violão/ Tia Doca bonita cantando gostoso e batendo na mão/ Olha a rapaziada fazendo o rateio comprando a bebida/ Deixa para Vicentina esta negra divina fazer a comida/ É tantã, é repique, é pandeiro e cavaco pra ficar legal/ Todo mundo tocando, sambando e cantando no maior astral."
Esta gravação representa para a explosão do partido-alto nos anos 1980 o mesmo que "Festa de Arromba" foi para o rock brasileiro nos anos 1960. Na letra, além da natural menção aos então integrantes do Grupo Fundo de Quintal (Sereno, Ubirany, Bira Presidente, Sombrinha, Cleber Augusto e Arlindo Cruz, cujo nome aparece no diminutivo. Era assim que o chamavam no Cacique, em função de ter o mesmo nome do pai), e a Dona Ivone Lara, há as presenças de Tia Doca, da Velha Guarda da Portela, e "um cara chamado Zeca Pagodinho" (conhece?). Mais tarde, nos shows, Leci abrandou para "meu amigo Zeca Pagodinho", mas convenhamos, em 1985 ninguém sabia quem ele era. Seu primeiro disco só foi sair em 1986. Lembro de ter ouvido um locutor numa rádio de Porto Alegre anunciando que iríamos ouvir uma música com o "Zé Pagodinho". Sem contar que, como existe o sobrenome Godinho, para mim, até não ver o nome do cidadão por escrito, Leci estaria falando em "Zé Capa Godinho"... (parem de rir, ouçam a gravação e vejam se não dá pra entender isso).
Outro samba nessa linha é "Tape Deck", de Jorge Aragão, que foi uma das faixas inéditas do seu CD Ao Vivo lançado em 1999 pela Indie.
"Comprei um tape deck/ O nome é esquisito, mas dizem que é bom/ Convidei os mano black/ Que gostam de rap/ De samba do bom pra inauguração./ Os manos que gostam de rap/ De samba do bom.// O fio do plug era azul, branco e bordô/ Meu cabelo arrepiou quando vi tanto botão/ Liguei o cassete no cabo da internet/ Usei mais de trinta cotonetes só pra limpar o visor/ Foi aí que o bicho pegou/ Era a galera gritando: 'Demorô!'/ Daí em diante a porrada começou/ O evento passava das três da madrugada/ Lá foi todo mundo pra calçada/ Tremenda mancada/ E eles na palma da mão: / 'A gente veio aqui pra ouvir Almir Guinéto/ Racionais MCs, Aniceto, Monarco, Gabriel o Pensador/ Velha Guarda que incendeia, Candeia, Pagodinho/ Vinny e Bochecha com Claudinho/ Que papelão, sangue bom!'"
Quase todos os artistas citados estavam vivos por ocasião do lançamento da música, à exceção de Aniceto do Império e Candeia. Creio que todos os mencionados são reconhecíveis, a não ser a "Velha Guarda" - como Aragão não diz de qual escola de samba ela seria, não temos como saber. Sem contar que ele poderia estar se referindo à "Velha Guarda" em geral, ou seja, todos os sambistas da antiga e pronto.
Outro grande samba nessa linha, "Clube do Samba", de João Nogueira, é também bastante divertido, não se referindo, entretanto a uma festa. A faixa de abertura de seu LP Clube do Samba (RCA, 1979), para a qual João convidou Martinho da Vila a cantar com ele, parece descrever é a vida como uma grande festa:
"(MARTINHO DA VILA - Como é que é, João?
JOÃO NOGUEIRA - Ih, na folia.
MARTINHO - Clube do Samba, beleza?
JOÃO - Melhor que merece.)
Melhor é viver cantando/ As coisas do coração/ É por isso que eu vivo no Clube do Samba/ Nessa gente bamba eu me amarro de montão./ (Eu também)// Tem gente de Madureira, de Vila Isabel e do Méier também/ O pessoal da Mangueira, Leblon, Ipanema e da Vila Vintém/ Uma morena bacana de Copacabana me disse: 'João/ Eu passo toda a semana com o Clube do Samba no meu coração'.// A Dona Ivone Lara me disse que agora está muito bem/ E que o novo trabalho da Beth Carvalho não dá pra ninguém/ Vejam vocês, Alcione e Roberto Ribeiro enfrentaram uma fila/ Foram comprar um ingresso pra assistir o show do Martinho da Vila.// Olha tia Clementina, parece menina, sempre a debutar/ Vive cantando pagode, saracoteando pra lá e pra cá/ Chico Buarque de Hollanda tá tirando onda, não quer trabalhar/ Vive batendo uma bola e tocando viola de papo pro ar/ (Mas sabe viver!)
(JOÃO - Beleza pura!
MARTINHO - Já... Quem ainda não pintou tem que pintar, meu irmão!
JOÃO - Senão vai sambar
MARTINHO - Não dá, não dá...
JOÃO - Vamos ligar essa tomada, compadre!)"
Semelhante à "Festa de Arromba", onde um dos autores é citado na letra, acontece aqui a menção de um dos intérpretes, Martinho. Tentei reproduzir o melhor que pude os diálogos de abertura e encerramento, apesar da gravação oferecer bastante dificuldade para isso.
Outros sambas
Há vários outros sambas nesta linha, embora nenhum deles chegue a se referir a uma festa. Um deles é o jocoso "Sanduíche de Artistas" (Claudio Fontana), gravado pelos Originais do Samba em 1986 na Copacabana:
"(Eu disse que a idéia é nova!)/ A idéia é nova/ Nasceu numa lanchonete em Araruama/ Hoje essa lanchonete ganhou fama/ Por causa do inusitado que criou/ O filho do proprietário, Luisinho (falô, Luisinho!)/ Pra chamar a atenção da freguesia/ Batizava os sanduíches que fazia/ Com nome de artistas famosos do Brasil (do meu Brasil)/ Freqüentadores daquela praia tão famosa/ Entusiasmados com a idéia tão gostosa/ Superlotam a lanchonete todo dia/ A fim de comer tão gostosas iguarias.// (O que come come?)/ Come come/ Come um Fafá de Belém/ Come que esse sanduíche te faz bem/ Presunto, dois ovos, alface, come quente/ Acompanhando sempre dois copos de leite.// (O que mais se come?)// Come come/ Come um Gilberto Gil/ Come que é um bom sanduíche de pernil/ Um Gal Costa todo mundo come e gosta/ Caetano Veloso é gostoso com o quê?/ Com pimenta e dendê!// Come come/ Sanduíche de Xuxa/ Ai que gostoso que ele é/ Feito com pão de centeio bem pretinho/ Com um chouriço no meio/ É o sanduíche do Pelé/ (Vejam só como é)// Come come/ Sanduíche de Rei/ Comi um Roberto Carlos e gostei/ É o que diz quem come sanduíche com seu nome/ Roberto é o sanduíche que mais se consome. (E o que mais se come?)//(Aí, pintou o maior sanduíche de pagode: Beth Carvalho, Martinho da Vila, Alcione, Almir Guinéto e outros mais. Pintou o sanduíche da malandragem: Bezerra da Silva. Aí, ó aí, pintou até cachorro-quente, morou? Lulu Santos. E o sanduíche de balanço? Jorge Ben, Bebeto e outras guitarras mais que têm por aí.)"
Há mais fala no final, mas a audição é bem difícil.
Do mesmo ano, é "Me Engana que Eu Gosto", samba gravado por Marquinhos Satã e Roberto Ribeiro. Também não consegui localizar o nome do(s) autor(es):
"Me engana, me engana, me engana/ Que eu gosto, que eu gosto.// (...)// A turma do rock se diz brasileira/ E é sempre a primeira na MPB/ Não sofre nenhuma influência estrangeira/ É até filiada ao PMDB/ E Chico Buarque nasceu em Caxias/ Caetano Veloso em Maria Angu/ Gal Costa passeando em Madureira/ Maria Bethânia sambando em Bangu."
Também nesse estilo é um dos primeiros sucessos de Benito di Paula, "Charlie Brown", que ele mesmo gravou em LP Copacabana de 1975. Na letra, Benito descreve o que poderia mostrar do Brasil numa eventual visita de seu ídolo Charlie Brown (o herói da série de quadrinhos Peanuts, do cartunista americano Charles Schultz, então uma das leituras preferidas do compositor):
"Eh! Meu amigo Charlie/ Eh! Meu amigo Charlie Brown, Charlie Brown.// Se você quiser, vou lhe mostrar/ A nossa São Paulo, terra da garoa/ Se você quiser, vou lhe mostrar/ Bahia de Caetano, nossa gente boa/ Se você quiser, vou lhe mostrar/ A lebre mais bonita do Imperial/ Se você quiser, vou lhe mostrar/ Meu Rio de Janeiro e o nosso carnaval.// Se você quiser, vou lhe mostrar/ Vinicius de Moraes e o som de Jorge Ben/ Se você quiser, vou lhe mostrar/ Torcida do Flamengo, coisa igual não tem/ Se você quiser, vou lhe mostrar/ Luiz Gonzaga, rei do meu baião/ Brasil de ponta a ponta do meu coração."
"Imperial" era o compositor e produtor Carlos Imperial, responsável pelo lançamento de Roberto, Erasmo e Wilson Simonal.
Sambistas nas festas dos outros
Fora do samba, várias outras músicas têm descrito festas citando cantores vivos - inclusive sambistas. Em três delas, a referência a "Festa de Arromba" é explícita. A primeira delas, por sinal, começa criticando "Charlie Brown". Falo de "Arrombou a Festa" (Rita Lee - Paulo Coelho), que Rita Lee lançou no LP Refestança (Som Livre, 1977), gravado em show feito ao lado de Gilberto Gil (por sinal, mencionado na letra...):
"Ai, ai, meu Deus, o que foi que aconteceu/ Com a música popular brasileira?/ Todos falam sério, todos eles levam a sério/ Mas esse sério me parece brincadeira.// Benito lá de Paula com o amigo Charlie Brown/ Revive em nossos tempos o velho e chato Simonal/ Martinho vem da Vila lá do fundo do quintal/ Tornando diferente aquela coisa sempre igual/ Um tal de Raul Seixas vem de disco voador/ E Gil vai refazendo seu xodó com muito amor/ Dez anos e Roberto não mudou de profissão/ Na festa de arromba ainda está com seu carrão/ (Parei pra pesquisar).// O Odair José é o terror das empregadas/ Distribuindo pílulas, arranjando namoradas/ Até o Chico Anísio já bateu pra tu batê/ Pois faturar em música é mais fácil que em tevê/ Celly Campello quase foi parar na rua/ Pois esperavam dela mais que um banho de lua/ E o mano Caetano tá pra lá do Teerã/ De olho no sucesso da boutique da irmã.// Bilú, bilú, fafá, faró, faró, tetéia/ Severina e o filho da véia/ A música popular brasileira/ A música popular// Sou a garota papo firme que o Roberto falou/ A música popular/ (Citação de "Tico-Tico no Fubá", de Zequinha de Abreu)/ Música popular/ Olha que coisa mais linda, mais cheia de/ Música popular/ Mamãe eu quero, mamãe eu quero/ Mamãe eu quero a música popular brasileira/ (citação de "Disparada", de Geraldo Vandré e Théo)/ Pega, mata e come!"
Curiosamente, aqui ocorre o uso da expressão "fundo do quintal" relacionada ao samba (mais especificamente a Martinho da Vila) -, até prova em contrário ANTES da criação do grupo com este nome. Há um festival de citações na letra, das quais destaco "Ouro de Tolo" (Raul Seixas); "Só Quero um Xodó" (Dominguinhos - Anastácia); a própria "Festa de Arromba" e o LP Vô Batê pá Tu, que o ator Chico Anísio gravou como "líder" do "grupo" Baiano e os Novos Caetanos. A menção a "Banho de Lua" (sucesso de Celly Campello em 1960) certamente se deve a seu relançamento como trilha da novela Estúpido Cupido, que a TV Globo exibiu entre 1976 e 1977. Também se reconhecem referências a "Qualquer Coisa" (Caetano Veloso), gravações de Sílvio Brito ("Bilu Tetéia", de Mauro Celso, de 1975, e "Farofa"), mais "A Garota do Roberto" (Carlos Imperial - Eduardo Araújo), êxito de Waldirene em 1967, "Garota de Ipanema" (Tom Jobim - Vinicius de Moraes) e "Carcará" (João do Vale - José Cândido).
Rita Lee e Paulo Coelho repetiram a dose em "Arrombou a Festa II", que a roqueira lançou em seu LP Rita Lee (Som Livre, 1979):
"Ai, ai meu Deus/ O que foi que aconteceu/ Com a música popular brasileira?/ Quando a gente fala mal/ A turma toda cai de pau/ Dizendo que esse papo é besteira.// Na onda discothéque da América do Sul/ Lenilda é Miss Lene,/ Zuleide é Lady Zu/ Pra defender o samba/ Contrataram Alcione/ É boa de pistom mas bota a boca no trombone/ No meio disso tudo a Fafá vem dá um jeito/ Além de muita voz, ela também tem muito peito/ E a música parece brincadeira de garoto/ Pois quando ligo o rádio ouço até Cauby Peixoto!/ (Cantando: 'Concessão...').// O Sidney Magal rebola mais que o Matogrosso/ Cigano de araque, fabricado até o pescoço/ E o Chico na piscina grita logo pro garçom:/ 'Afasta esse cálice e me traz Moet Chandon'/ Com tanto brasileiro por aí metido a bamba/ Sucesso no estrangeiro ainda é Carmem Miranda/ E a Rita Lee parece que não vai sair mais dessa/ Pois pra fazer sucesso arrombou de novo a festa!// Ziri, ziriguidum/ Skindô, skindô lelê/ Sai da frente que eu quero é comer/ A música popular brasileira/ Lady Laura/ A música popular/ Parabéns a você/ Parabéns para a música popular/ (Citação de "Fé", de Roberto e Erasmo)/ Música popular/ Ah, eu te amo/ Ah, eu te amo meu amor/ Ai, Sandra Rosa Madalena/ Ah, ah, ah, ah/ O meu sangue ferve pela música popular / Ah, fricote, eu fiz xixi/ Fricote eu fiz xixi/ Na música popular brasileira./ (Citação de "Disparada")/(Corre que lá vem os "homi")."
Já vimos em outras músicas um dos autores ser mencionado na letra, mas aqui pela primeira vez o citado é justamente o que canta. Lady Zu e Miss Lene eram mesmo duas cantoras de disco-music lançadas em 1978, mas o verdadeiro nome da última não era Lenilda, e sim Frankislene Ribeiro Freitas. Entre as músicas aludidas, estão "Cálice" (Chico Buarque - Gilberto Gil), "Conceição" (Jair Amorim - Dunga), "Lady Laura" (Roberto - Erasmo), "Sandra Rosa Madalena" (Roberto Livi - Miguel Cidrás). Talvez nem precisasse dizer, mas "Fafá" é a de Belém e "Matogrosso" é o Ney. Ah, e "Chico" é o Buarque.
Podemos dizer que a visão das duas "Arrombou a Festa" em relação ao samba não era das mais amistosas. Se bem que pelo visto, para os dois autores, nada tava bom. O mesmo não acontece na terceira música que se inspira nitidamente em "Festa de Arromba": "Festa da Música", de Gabriel O Pensador e Memê. Mais conhecida, em função do refrão, como "Festa da Música Tupiniquim", foi gravada por Gabriel O Pensador em 1997, no CD Quebra-Cabeça (Sony). Vale a pena reproduzir a ficha técnica do rap, que consta do encarte do disco, mostrando já de cara o espírito da coisa e, de lambuja, o respeito pelo universo do samba:
"Convidados vip: Sandra de Sá e Martinho da Vila
(Memê: Coro, teclados, bateria, percussão e sampler/ Dunga: Baixo/ Cláudio Jorge: Violão/ Paulinho Soares: Cavaquinho/ Marcos "Esguleba": Pandeiro e tamborim/ Silvão: Surdo e ganzá)
OBS.: Esta obra de ficção é uma homenagem a todos que estiveram, estão ou estarão um dia na festa da música brasileira."
Como a letra é quilométrica e não é muito difícil localizá-la na internet, vou reproduzir apenas os trechos relativos ao samba. Gabriel tinha conseguido entrar na festa (acompanhado por Gil, Caetano, Djavan, Pepeu, Elba, Moraes, Alceu Valença, "a galera do Nordeste"), estava se divertindo, mas, como João Gordo vomitara em seu pé, pediu aos Raimundos onde ficava o banheiro e
"(...) fiz papel de mané os sacanas me mandaram pro banheiro de mulher/ As meninas tavam lá e foi só eu entrar que a Cássia Eller, Zizi Possi e a Gal começaram a gritar (Ahhhhh!)/ Quanta saúde! Fernanda Abreu, Daniela Mercury, Marisa Monte, Daúde... calma, eu não vi nada! A Ângela Rô Rô queria me dar porrada.// Mas os três malandros, Moreira, Bezerra e Dicró, me ajudaram a escapar da pior/ Fui pro fundo de quintal, casa de bamba todo mundo bebe todo mundo samba/ Beth Carvalho, Alcione, Zeca Pagodinho Neguinho da Beija-Flor...Diz aí Martinho!/ Comé que é, professor?/ 'É devagar, é devagar, devagarinho'."
A expressão "os três malandros" refere-se ao CD Os Três Malandros in Concert, que Moreira da Silva, Bezerra da Silva e Dicró tinham lançado pela CID em 1995.
Referências-reverências
Gabriel citava Tom Jobim no refrão de "Festa da Música" ("Festa da música tupiniquim/ Que tá rolando aqui na rua Antônio Carlos Jobim/ Todo mundo tá presente e não tem hora pra acabar/ E muita gente ainda tá pra chegar"). O autor de "Águas de Março" também foi o ponto de partida para Chico Buarque compor "Paratodos", lançado por ele mesmo em 1993 no CD BMG de mesmo nome:
"O meu pai era paulista/ Meu avô, pernambucano/ O meu bisavô, mineiro/ Meu tataravô, baiano/ Meu maestro soberano/ Foi Antônio Brasileiro.// Foi Antônio Brasileiro/ Quem soprou esta toada/ Que cobri de redondilhas/ Pra seguir minha jornada/ E com a vista enevoada/ Ver o inferno e maravilhas.// Nessas tortuosas trilhas/ A viola me redime/ Creia, ilustre cavalheiro/ Contra fel, moléstia, crime/ Use Dorival Caymmi/ Vá de Jackson do Pandeiro./ Vi cidades, vi dinheiro/ Bandoleiros, vi hospícios/ Moças feito passarinho/ Avoando de edifícios/ Fume Ary, cheire Vinicius/ Beba Nelson Cavaquinho.// Para um coração mesquinho/ Contra a solidão agreste/ Luiz Gonzaga é tiro certo/ Pixinguinha é inconteste/ Tome Noel, Cartola, Orestes,/ Caetano e João Gilberto.// Viva Erasmo, Ben, Roberto,/ Gil e Hermeto, palmas para/ Todos os instrumentistas/ Salve Edu, Bituca, Nara/ Gal, Bethânia, Rita, Clara,/ Evoé, jovens à vista.// O meu pai era paulista/ Meu avô, pernambucano/ O meu bisavô, mineiro/ Meu tataravô, baiano/ Vou na estrada há muitos anos/ Sou um artista brasileiro."
A maioria dos nomes citados é facilmente reconhecível - com a possível exceção de "Bituca", apelido familiar de Milton Nascimento. Este lindo baião é uma das poucas músicas relacionadas aqui que mesclam artistas vivos com falecidos. Já não viviam em 93 Jackson do Pandeiro, Ary Barroso, Luiz Gonzaga, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho, Noel Rosa, Cartola, Orestes Barbosa, Nara Leão, Clara Nunes e Vinicius de Moraes.
O Poetinha é um dos autores de um clássico desta linha, "Samba da Bênção" (Baden Powell - Vinicius de Moraes), incluído no LP Os Afro-Sambas de Baden e Vinicius, que a dupla gravou na Forma em janeiro de 1966. Na parte falada do final, Vinicius se apresenta como um exemplo da síntese do samba: branco na poesia e negro demais no coração.
"Eu, por exemplo, o capitão do mato Vinicius de Moraes. Poeta e diplomata. O branco mais preto do Brasil, na linha direta de Xangô. Saravá! A bênção, Senhora, a maior ialorixá da Bahia, terra de Caymmi e João Gilberto. A bênção, Pixinguinha, tu que choraste na flauta todas as minhas mágoas de amor. A bênção, Sinhô, a bênção, Cartola, a bênção, Ismael Silva. Sua bênção, Heitor dos Prazeres. A bênção, Nelson Cavaquinho. A bênção, Geraldo Pereira. A bênção, meu bom Cyro Monteiro, você, sobrinho de Nonô. A bênção, Noel, sua bênção, Ary. A bênção, todos os grandes sambistas do meu Brasil branco, preto, mulato, lindo como a pele macia de Oxum. A bênção, maestro Antônio Carlos Jobim, parceiro e amigo querido, que já viajaste tantas canções comigo e ainda há tantas a viajar. A bênção, Carlinhos Lyra, parceirinho cem por cento, você que une a ação ao sentimento e ao pensamento. A bênção. A bênção, Baden Powell, amigo novo, parceiro novo, que fizeste este samba comigo. A bênção, amigo. A bênção, maestro Moacir Santos, que não és um só, és tantos, tantos como o meu Brasil de todos os santos, inclusive meu São Sebastião. Saravá! A bênção que eu vou partir e vou ter que dizer adeus."
Quase todos os referidos estavam vivos na época - Heitor dos Prazeres faleceu em outubro de 1966. As exceções eram Sinhô, Geraldo Pereira, Ary Barroso, o pianista Nonô e Noel Rosa.
Noel também é lembrado em "Quero Ser Teu Funk" (Gilberto Gil - Dé - Liminha), música dedicada ao Rio de Janeiro, que Gil gravou no LP Parabolicamará (WEA, 1992):
"Quero ser teu funk/ Já que sou teu fã número um/ Agora quero ser teu funk/ Já - já que sou teu fã número um.// Funk do teu samba/ Funk do teu choro/ Funk do teu primeiro amor.// (...) Mesmo que São Paulo te xingue/ Porque te cobiça o suíngue/ O mar, a preguiça, o calor/ Lembra da Bahia, que um dia/ Já mandou Ciata, a tia/ Te ensinar quizomba nagô.// (...) Rio de Janeiro, Rocinha/ Sempre a te zelar, Pixinguinha/ Jamelão, Vadico e Noel/ Funk são teus arcos da Lapa/ Funk é a tua foto na capa/ Da revista Amiga do céu."
O único citado vivo da letra era (é!) Jamelão.
Já que tocamos no assunto
Para esse texto, não considerei as músicas feitas por um autor em homenagem a um outro, o que tornaria a relação infinita. Em cada música que incluí, foram citados pelo menos quatro artistas. Também adotei como critério que os músicos fossem citados na letra e não apenas em partes faladas no início ou no final da gravação (embora as tenha considerado, quando existiam). E, queiram desculpar, preferi não incluir composições de Caetano Veloso. Embora reconheça que a citação de pessoas vivas nas letras é uma constante em sua obra, fiz essa opção, em grande parte, por constatar que nem sempre é fácil identificar a que(m) Caetano se refere (exemplo: em "Este Amor", de 1989, o verso "Se alguém pudesse erguer o seu gilgal em Bethania" pode ser realmente uma referência a Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia, como parece - ou não!). Agora, vejam o lado bom: isso permite que futuramente eu faça outro texto só com essas músicas do Caetano!
Localizei outras quatro músicas citando artistas vivos que não se encaixavam nos critérios adotados, seja por não narrarem festas, muitos por não incluírem sambistas, alguns por só conter poucos nomes, outros pelo fato da menção ocorrer fora da letra.
"Aquele Abraço", de Gilberto Gil, por exemplo, cita apenas três artistas, na fala que abre a gravação de Gil em compacto Philips de 1969:
"Este samba vai para Dorival Caymmi, João Gilberto e Caetano Veloso."
Já em "Meu Nome É Gal", que Roberto Carlos e Erasmo Carlos compuseram especialmente para Gal Costa, os dois autores são citados (o que não aconteceu em nenhuma outra música desse texto), na fala final, mas tenho a impressão que o texto dessa parte é de responsabilidade integral da cantora, que gravou a composição em seu LP Gal (Philips, 1969). Quem além dela poderia escrever isto?
"Meu nome é Gal, tenho 24 anos. Nasci na Barra Avenida, Bahia. Todo dia eu sonho alguém pra mim. Acredito em Deus, gosto de baile, cinema. Admiro Caetano, Gil, Roberto, Erasmo, Macalé, Paulinho da Viola, Lanny, Rogério Sganzerla, Jorge Ben, Rogério Duprat, Waly, Dircinho, Nando e o pessoal da pesada. E se um dia eu tiver alguém com bastante amor pra me dar, não precisa sobrenome pois é o amor que faz o homem..."
Além dos autores, o guitarrista Lanny Gordin, que acompanhava a gravação, ganhava referência. Quem serão Dircinho e Nando?
Pra encerrar, há duas músicas muito legais que não podiam ficar de fora, nem que fosse nesse apêndice. A primeira é "Rolava Bethânia", versão para "Roll Over Beethoven" (Chuck Berry), que o lendário roqueiro Serguei gravou no seu único LP, em 1991. Embora a canção tenha feito muito sucesso na época, o LP não foi lançado em CD. Também não consegui localizar a letra - o que é uma pena, pois ela descreve uma festa! Só lembro de um trecho, provavelmente o final:
"Rolava Bethânia/ Rolava Bethânia/ Rolava Bethânia/ No meio daquela confusão!/ Rolava Bethânia/ Rolava Bethânia/ Rolava Bethânia/ E alguém pediu Cazuza e Barão!"
A outra é uma sátira ao mundo do espetáculo brasileiro, descrevendo a luta de uma dupla sertaneja pelo sucesso. Estou falando de "Tô Naquela que Jogaram na Geni", de Meirinho, gravada por Roberto e Meirinho em 1985:
"(Essa é a história de Roberto e Meirinho, que botaram na cabeça que são artistas)/ Eu vendi minhas galinha, minhas vaca leiteira, vendi meu jegue, vendi minha égua magra, vendi meu carrinho, minha carpideira, vendi tudo que eu tinha lá na roça e mudei pra próxima cidade/ Eu, que pensei que não tava com nada no interior, peguei o trem, vim pra São Paulo, desci na Estação da Luz pensando em ter um pouquinho de felicidade./ Fui na gravadora, fui na televisão, eu fui no rádio, a turma me chamava de atrevido e chato, apesar da voz rouca, desafinada, ninguém quis me dar oportunidade/ Meu Deus, eu tava desempregado, eu tava duro, sofrendo igual a um cão escovando urubu e passando fome nesta cidade!// Eu vivi, eu sofri/ Estou numa boa, bicho, mora?/ Tô naquela que jogaram na Geni.// Em São Paulo, por insistência de alguns amigo, morando numa pensão, eu consegui ficar mais de cinco semana/ Depois me deu um desespero, fui pro Rio de Janeiro, fui ver se descolava algum, mas acabei dormindo na praia de Copacabana./ Lá encontrei Gal, Bethânia, Gilberto Gil, Chico Buarque, Caetano, Jorge Ben, Milton Nascimento, Simone, Blitz, Roberto Carlo, Tim Maia, trocamos idéia mas não teve jeito/ Meu Deus, passar fome do jeito que eu passei no Rio também é farta de respeito!// Eu vivi, eu sofri/ Estou numa boa, malandro, mora?/ Tô naquela que jogaram na Geni.// Lá do Rio de Janeiro, fui a Belo Horizonte, fui a Goiânia, Brasília, passei em Cuiabá, peguei carona pra chegar até Belém do Pará/ Depois fui a Campo Grande, Londrina, Curitiba, Porto Alegre, Natal, Fortaleza, Florianópolis, Vitória, Salvador, fui pra Natal, voltei pro Rio, vim pra São Paulo e já vi que o negócio pra mim aqui não vai dar./ Eu que já tava de saco cheio, cantando nesses programa de televisão, imitando bicha, rebolando, usando peruca e a turma gozando com a nossa cara, eu já tava meio arretado, falei pro meu irmão nós não tamo é com nada/ Ô gente, ajuda nóis, sô! Compra nossos disco! Ô, disc-jóquei! Toca nossas música pra fazer sucesso, porque senão nós vamos vortar a trabalhar no cabo da enxada."
Mantive as faltas de concordância e de "s" nos plurais existentes na gravação. O título da música já é uma gozação com o refrão de "Geni e o Zepelim", que Chico Buarque compôs para a peça Ópera do Malandro (1977) - vocês sabem. E o apelo final à influência da mídia como determinante para o sucesso é bem menos romântico que o dirigido ao "amigo locutor" e ao "amigo da TV" em "Mensagem", de Altay Veloso e Aladim Teixeira, que Leandro e Leonardo consagraram em 1991 numa gravação Chantecler.

O que pensar?

É O COLÉGIO FÉLIX MIRANDA REPENSANDO O SABER
GRUPO DE PESQUISA PROFESSOR-LEITOR
O que pensar sobre a educação?


A todos os profissionais da educação que fazem da escola
um espaço de mudanças.
Mestre não é só quem ensina,
mas quem de repente aprende.

[...] Essas diferenças de raça, de classe social, gênero,
linguagem, cultura, preferência sexual, deficiência física ou
mental – têm, com muita freqüência , justificado as
discriminações e as perseguições sofridas por indivíduos ou
grupos.
( Moreira, 1.999, p.68 – 76)
História da gastronomia no Brasil
GRUPO DE PESQUISA PROFESSOR-LEITOR

A chegada dos portugueses e africanos
Após a descoberta, no início do século XVI os portugueses iniciaram a exploração das terras brasileiras. Da miscigenação dos povos indígenas, portugueses e africanos trazidos como escravos nasciam os brasileiros e a cozinha brasileira com a mistura da culinária destes três povos. A cozinha portuguesa tinha uma grande influencia dos povos árabes, mas já tinha uma identidade própria.
Junto com os navios portugueses vieram frutas, vegetais, verduras e animais. Figo, laranja, limão, melão, agrião, espinafre, chicória, mostarda, coentro, trigo, hortelã, cebolinha, manjericão, alho, alfavaca, gengibre, arroz, cana de açúcar, temperos da índia, bois, vacas, touros, ovelhas, cabras, carneiros, porcos, galinhas, patos, deram possibilidades à ampliação da nossa culinária.
Os escravos trouxeram da áfrica o quiabo, inhame, erva-doce, gengibre, açafrão, gergelim, amendoim africano, melancia e outras variedades de coco e banana. A banana da terra que era necessária ser cozida antes de consumir era pouco apreciada. A banana vinda da áfrica e consumida in-natura como fruta logo se tornou popular.
A mandioca e o milho por sua fartura tornaram-se o alimento básico dos escravos. Na necessidade de explorar a pouca variedade de matéria prima, o negro criou do milho o angu, um mingau mais consistente que o pirão. O pirão por sua vez, tal qual o conhecemos foi criado pelo português que usou a técnica de fazer papas e caldos de seus camponeses adicionando a farinha com caldo fervente.
No tempero, o português deu outra grande contribuição à culinária da brasileira. Impôs o gosto pelo sal, quase não utilizado pelos índios e pelos africanos, e ensinou a salgar a carne para preservá-la. Cozinhar bem era e é “ter boa mão de sal”. Outras especiarias tornaram-se presentes, como o cravo-da-índia, a erva-doce, a canela e o alecrim.
O arroz se firmou como alimento mais presente a partir de XVIII e era cozinhado como uma papa para ser consumido com carnes e peixes.
Os portugueses passaram a consumir o feijão nativo do Brasil, mas somente o brasileiro do século XVI assumiu o habito de consumo acompanhado de peixes e carnes. A farinha e o feijão são dois alimentos nativos brasileiros que constituem ainda hoje a base da nossa alimentação.
Com o açúcar e a habilidade da mulher portuguesa em cozinhá-lo com frutas, surgiram vários doces como conhecemos hoje, e, estas nossas sobremesas eram consideradas um mero passatempo e não um alimento. Do açúcar surgiu a aguardente que de fácil produção passou a ser consumido pelos mais pobres tornando-se a bebida alcoólica brasileira que tem varias denominações, mas como marca internacional assumiu o nome de Cachaça.
Da necessidade dos escravos em misturar poucos ingredientes a disposição usando a técnica de cozimento em de vários ingredientes juntos dos portugueses, a cozinha brasileira ganhou as diversas receitas de cozidos, técnica tão usada na nossa culinária.===O surgimento de uma gastronomia com a nossa identidade.===
A identidade da cozinha brasileira avançou quando indígenas, portugueses, africanos, e mestiços formaram comunidades próximas aos locais de extração do ouro tendo que usar os ingredientes das regiões com diversas técnicas de cocção.
Com a vinda da Família Real Portuguesa no Brasil, chegando uma comitiva de mais de 15 mil nobres portugueses, passou-se a importar diversos novos ingredientes e novos molhos, enfeites e acabamentos de pratos se incorporaram a nossa cozinha. O consumo do pão, saladas, sobremesas, vinho e as frituras com azeite passaram a ser usuais.
Durante mais de três séculos nossa cozinha desenvolveu-se com características predominantemente portuguesa com influência de índios e negros. A partir do século XIX com a ampliação do comercio internacional, passou-se a importar vinhos, cervejas, conservas, queijos, novas frutas, licores, chás, chocolates e a cozinha francesa e inglesa passaram a influenciar nossa culinária, surgindo inclusive confeitarias e sorveterias. Surgiam os primeiros restaurantes italianos e franceses.
O ciclo do café trouxe muitos imigrantes, e alem dos franceses e ingleses vieram espanhóis, alemães suíços e italianos. O café como principal produto brasileiro durante muito tempo tornou-se um habito permanente de consumo.
Os imigrantes italianos tiveram grande influencia na nossa culinária incorporando ao nosso dia a dia massas de todos os tipos, molhos, pizzas, pães, etc. A facilidade de brasileiros de misturar pratos incorporou ao tradicional arroz e feijão uma pequena porção de macarrão, uma coisa impensável na Itália onde o macarrão é um prato autônomo.
Os alemães trouxeram a cerveja que como em quase todo o mundo, também é uma preferência nacional.
Mais recentemente com a influencia cultural norte-americana em todo mundo, surgiu o consumo de lanches e principalmente o cachorro quente e o hamburger são muito populares no Brasil. Porem este consumo veio junto com a forte influencia cultural, pois o a cozinha norte-americana não é saudável como a brasileira.
A influência em nossos dias
Apesar de muitas influências, a culinária brasileira ainda é baseada nas origens surgidas com os índios, escravos e portugueses. A base da nossa culinária esta ancorada em Ingredientes como abóboras, batata, aipim, inhame, cara, feijões de diferentes espécies, arroz, carne de peixe, suínos e boi, farinha de mandioca, leite e ovos. Esses ingredientes com a capacidade de misturar sabores do brasileiro com processos fáceis de cocção fez a nossa culinária rica e variada.
A globalização trouxe a facilidade de importação de produtos e nas grandes cidades existem a fusão de ingredientes e sabores de todos os lugares do mundo que podem trazer uma falsa impressão de uma grande influencia estrangeira na nossa cozinha atual. Porem, no Brasil do interior, imenso e com traços regionais firmes os ingredientes e misturas surgidos no começo da nossa história continua com a mesma identidade.
Da mesma forma que o brasileiro recebe bem o imigrante, recebe os seus pratos e sabores e em qualquer lugar do Brasil se encontra cozinhas e ingredientes do mundo todo espalhados por bares, restaurantes e supermercados. Com a fama de casar as coisas, o brasileiro vai misturando sabores sem prender-se a regras e vai tornando a nossa gastronomia cada vez mais rica, mas o tradicional arroz, feijão, “mistura” salada e ovo, com variações regionais é o prato típico brasileiro oriundo da influencia do índio, do negro africano e do português.
mas a influencia dos indios nao é só na culinaria... tambem é na lingua... !!
SERÁ NESTE FÉLIX MIRANDA QUE OS OLHOS PISARÃO O CHÃO?

GRUPO DE PESQUISA PROFESSOR-LEITOR



De acordo com a nossa Constituição Federal, sabemos que as crianças e adolescentes com necessidades educacionais especiais têm direitos garantidos. Sendo assim, nos últimos anos a educação especial tem sofrido mudanças significativas. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9394/96), prevê que todos os alunos devam estar, preferencialmente, na rede regular de ensino, visando um sistema de inclusão da pessoa com deficiência. Assim, a inclusão deve ocorrer a partir do momento em que o aluno participa da comunidade escolar. Participar significa que suas diferenças sejam partes contempladas e integradas na proposta curricular, relevando a necessidade de trabalhar temas como as diferenças raciais, de gênero, crenças, habilidades e aptidões diversas. O educador deverá propor a construção de currículos adequados a cada aluno, respeitando suas diferenças, facilitando sua aprendizagem e ajustamento social. Portanto, é importante a desmistificação de que os professores indicados para o trabalho junto a alunos com necessidades educativas especiais são aqueles que possuem formação específica, sendo então, os mesmos, os profissionais especiais para o ensino de tal aluno e por esta causa, foram cada vez mais, criadas classes especiais. Logo, o professor se limita a preocupar-se com o que o aluno deve aprender e não como ele aprende ou pode aprender.


Temos o direito de reivindicar a igualdade toda vez que a diferença nos inferioriza. Temos o direito de reivindicar a diferença toda vez que a igualdade nos descaracteriza”. Boaventura.



O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”

domingo, 28 de outubro de 2007

NO ESCURINHO DO CINEMA

NO ESCURINHO DO CINEMA

No Félix Miranda entendemos que a sala de aula deve ser um espaço de integração constante entre o aluno e a sociedade.Através da arte cinematográfica o aluno pode tranpor os limites do quadro-de-giz e aumentar sua percepção de mundo a partir do estudo da sétima arte.

· “Cabaret” (EUA)
Uma cantora, um professor, um barão e uma Alemanha nazista. Ganhou Oscar. Liza Minelli canta muito bem e questiona a repressão, mostrando o modo de fugir das adversidades. Prestem atenção na cena onde ela e o professor (Michel York) gritam, abafados pela zoeira de um trem de ferro – puro mecanismo de defesa dos resilientes?

· “Adeus minha concubina” (CHA)
O painel de fundo é a complexidade de um país – a China. A Revolução Cultural de Mao Tsé Tung. Os vícios aos ópios. Dois meninos de rua sonham ser cantores da Ópera de Pequim e se tornarem famosos, ricos, e privilegiados. Eles sobreviverem a todo esse contexto – mas a que prêço? Discute amizade, amor, identidade – sempre social e históricamente construída. Atenção às seguintes cenas: a mãe corta o dedo do filho; o mestre implacável tortura o aluno resistente em apreender o ser feminino; a catarze da prostituta e as traições de acordo com a Revolução Cultural de Mao Tsé Tung; os dois garotos fogem do internato, e encontram na rua uma aprsentação da Ópera de Pequim e um diz o seu desejo; o país, apesar dos pesares, se modifica para melhor; a prostituta – a outra – cuida dos dois atores; a concubina delata’a concubina negaocia o amor do mesmo “rei” com a outra; uma outra identidade é construída; uma nova estética emerge e os atores são obrigados a se adaptarem etc.

· “Lição de amor” (BRA)
Uma alemã no Brasil (Liliam Lemmertz) educa garotos de família de ricos brasileiros. O conteúdo de sua aula: Amor e sexo. Por que uma “ froelaim”? Por que uma alemã se os alemães podem representar socialmente a friesa – e o refinamento?

· “Veludo Azul” (EUA)
Um rapaz ingênuo encontra uma orelha – significado: Escute a tua prórpia voz. Curioso o rapaz mergulha na procura do outro – de si – uma cantadora de uma boate que canta a canção que dá título ao filme. Curioso – como um cientista – ele começa a observar e descobre que deve sair do armário e participar da cena da vida.
Com a belissíma atriz Isabela Rosselini, filha de Ingridi Bergman e Roberto Rosselini.

· “Beleza Americana”(EUA)
De chofre ficamos a saber que o personagem central morreu assassinado. Por quem? O que aconteceu? Muito cinismo, num EUA moralista, dúbio... Por que a beleza é americana?

· “Deus e o diabo na terra do sol” (BRA)
Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha, com Geraldo D’El Rey, Othon Bastos, Maurício do Valle, Yoná Magalhães e Sonia dos Humildes.
Filme-ópera que rompe com os cânones narrativos do cinema brasileiro para instaurar uma estética dilacerante onde estão em simbiose a tragédia sertaneja, plena de ecos gregos, e a expressão lancinante de brasilidade, onde, num toque original e impactuante, a influência de vários cineastas (Ford, Kurosawa, Buñuel, e principalmente Eisenstein - a matança dos beatos é nitidamente influenciada pela seqüência da Escadaria de Odessa de O encouraçado Potemkin) se espraia num estilo personalíssimo.
Completa André Setaro (2004) que este filme traumatizou duramente o cinema brasileiro.
Prestem atenção na célebre cena: “Mais fortes são os poderes do povo”. Isso é dito no prenúncio dos Governos Militares no Brasil.
· “O Pagador de promessas” (BRA)
A fé, a traição, o cinismo da igreja. A ambição desenfreada. A sedução. Palma de Ouro em Cannes. Indicado Oscar filme estrangeiro.
· “O anjo loiro” (BRA)
Uma garota de cabaret e de programas conquista – sem o desejar – um professor e destrói toda a sua moral e família. Vera Fischer está linda, sustentando o seu idílio – filme datado na estética. Cenas leves de nudez.
· “Floradas da Serra” (BRA)
O mito Cacilda Becker – grande nome do Teatro – vai para Campos do
Jordão tratar-se de tuberculose. Lá conhece Jardel Filho – os olhos verdes voltaram – e se apaixonam.
Temas: terminalidade; amor e doença; proximidade e a construção do amor; influência européia no cinema brasileiro; burguesia e proletariado juntos e a luta de classes etc.

· “Toda nudez será castigada” (BRA)
Uma prostituta – Geni - deseja ser respeitada com dignidade.
Sua trajetória é amarga e dramática.
Texto de Nelson Rodrigues – crítico da classe média carioca. Denuncia a sexualidade, a hipocrisia, o homossexualismo – objetos de escárnios hipócritas e moralistas.
Sempre com sua ótica dúbia: moralista e libertadora.
Darlene Glória – uma das maiores estrêlas do Brasil e que só alcançou o status de atriz/ estrêla nesse filme – está maravilhosa, parecendo viver a própria vida.

· “Cidade de deus” (BRA)
Um ex-favelado se transforma em fotógrafo e começa fotografar-se a partir das gentes da favela e comunidade Cidade de Deus. Indicado a 4 Oscar.

· “Diário de motocicleta” (BRA)
Ernesto Ché Guevara é sensívekmente abordado por Walter Salles. Ché, em determinada cena, cuida dos hanseníanos – parece com São Francisco e Santa Clara! Veja o domínio estético do cinema brasileiro.

· ”Central do Brasil” (BRA)
Uma professora para sobreviver ao parco salário da aposentadoria (magistralmente interpretada por Fernanda Montenegro), acrescenta aos seus ganhos escrevendo cartas para os transeuntes analfabetos que circulam pela Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Ela faz pequenos delitos. Observem os diálogos. Prestem atenção nas seguintes cenas: Ela vende o menino para que lhe “roubam” os órgãos – essa cena chocou o público americano; a professora é consolada pelo menino ao sentir que foi abandonada pelo caminhoneuiro; a professora encontra seus encantos, e vai ao banheiro do bar, enfeitar-se e ser mulher – acena do batom é elogiada etc. Trata-se de uma viagem entre uma professora e um aluno dentro de si mesmos, a partir do mergulho no interior da nação – o nordeste esquecido, mas ainda cheio de amor e uma família ajustada e cheia de (com)paixão.

· ”O quatrilho” (BRA)
Moralidade é questionada. Um outro estilo de vista é posto à nossa frente. Indicado ao Oscar de filme estrangeiro.

· ”Eu, tu e nós” (BRA)
No nordeste uma mulher encontra possibilidades de ser feliz de um modo mais ameaçador às estruturas rígidas da família brasileira. Nós aceitamos pelo humor, mas saimos mais cínicos do que entramos. Por que?

· ”Intimidade” (BRA)
Uma estrêla de cinema e TV (Vera Fischer) é construída e mostra a dor e ansiedade desse lugar que ocupa.
Prestem atenção na cena dela no programa do Chacrinha – antigo apresentador de TV, muito “doido” – para a época - e psicodélico.
Veja a cena de Vera e Perry Salles na cama: Que livro ele está lendo? Será que lemos o título direito? Perry lê esse tipo de literatura refinada? Ai tem o dedo do diretor!

· ”Pixote” (BRA)
Uma instituição – Febem. Meninos juntos: amizade, amor...
Prestem atenção em duas cenas já “cult”: Marília Pêra dá de mamar ao Pixote; um menino do internato – homossexual – canta Caetano Veloso: “Eu vi o menino correndo/ Eu vi o tempo/ O tempo passou ao redor daquele menino ...”. Lindíssímo!

· “O amor está no ar”(BRA)
Dirigido pelo capixaba Amylton de Almeida que não o pode terminar por ter falecido de câncer.
Uma apresentadora de rádio é provocada por um fã, e o amor que ela tanto anuncia – ela mesma não o tem. Solidão e dor de ser - condição humana?
Prêmio melhor Atriz Oscarito/ Quiquito em Gramado.

· ”Anjos do arrebalde” (BRA)
Três professoras são ameaçadas – vivem na periferia de São Paulo, em plena década de 1980.
Faz severas críticas aos costumes da época. Serão apenas daquela época?
Discute: problemas financeiros; violência – dentro e fora da escola; problemas do cotidiano doméstico dessas mulheres; ética, estética e moralidade cínica: uma das professoras abandona o magistério, atendendo às exigências do marido, e passa ser dona de casa.
Betty Faria - lindissíma e, – pasmém – talentosa!
Clarisse Abujamra, Irene Estefânia – mito do cinema novo – e o galã – da época – Ênio Gonçalves.

· “Noites de Cabíria” (BRA)
Uma prostituta deseja casar, ter filhos... Mas é sempre iludida.
Masina está perfeita e talentosa.
Fellini – marido de Giulietta Masina – perfeito.
Oscar melhor filme estrangeiro. Recebeu o Ofício Católico de Cinema.
Prestem atenção: cena inicial dela ter sido jogada no rio e comparem quando ela (pré)sente e diz: “Que luz estranha!”.
Observem a cena que ela é hipnotisada.
E quando ela olha pela fechadura – abraçada com um cãozinho – o famoso ator, que não a deseja?
Na nova versão há uma cena de um voluntário (?) distribuindo sopa para os empobrecidos do pós guerra. Essa cena foi censurada pela Igreja.
Observe Masina dançando na rua e sua briga com uma prostituta “aloprada” e delirante, mas que lhe pontua a verdade de sua existência.
É antológica a cena onde Masina pede graças a Madanna – Nossa Senhora!
Tudo no filme é belo, “bacaninha” e profundo.
Tudo de bom!

· ”Alice no país das maravilhas” (EUA da Walt Disney)
Prestem atenção nesse filme que narra o ritual de passagem de uma menina para uma mulher.
Cena: Inebriada, a cobra interroga: “Quem és tu? Quem és tu?” E Alice responde:
“- Eu sou apenas uma menina!”.

· ”Filadelfia” (EUA)
Cinismo e luta pelos direitos de um portador do vírus HIV/ AIDS. Preconceito.
Prestem atenção: cena onde o soropositivo (re)interpreta – faz um comovente cover de “Mama Morta” trecho de ópera interpretada por Maria Callas.
Veja o impacto da (re)interpretação na subjetividade do advogado negro: identificação nas marginalidades!

· ”A Lista de Schindler” (EUA)
Anti-semitisto. Tolerância. Intolerância. A falácia da generalização de que todo alemão perseguiu os judeus. (Com)Paixão. Interprete: Cena preto e branco e as cores das rosas, da menina.

· ”Sociedade dos poetas mortos” (EUA)
Clássico. Um professor sonha(dor) e alunos instigantes.
Filme muito assistido – mas nem sempre bem analisado e apreendido.

· ”O carteiro e o poeta” (ITA)
O que é metáfora? Pergunta o carteiro ao poeta. A partir daí ele passa a produzir poesias e a se tornar consciente crítico.
O que é consciência ingênua?
O que é consciência crítica?
Como se dá essa passagem – de uma consciência para outra?
Leia Paulo Freire para enriquecer a percepção do filme. Talves: “Pedagogia do Oprimido” e “Conscientização”.

· ”Rain Man”(EUA)
Irmão autista mostra-se talentoso.
Os irmão se revêm e se reconhecem.
Novamente é um filme “batido” mas sem análise profunda.

· ”Perdidos na noite”(EUA)
Jovem sonha ficar rico prostituindo, mas Nova York não é a cidade tão receptiva como pensava.
Amizade entre homens é a temática desse filme.

· ”Gata em teto de zinco quente”(EUA)
Mulher – Elizabeth Taylor – é apaixonada por um rico herdeiro – o jovem e belo Paul Newman.
Ela é sistemáticamenet desprezada pelo marido, e sob tamanha pressão – ela deseja fazer sexo e ele fica impotente, a recordar de seu amigo que suicidou – ela fica gritando e reclamando como uma gata em teto de zinco quente – pulando, pulando...
Desesperada.
Um desejo que não se tem saciação.
Temas: Relações interpessoais; família e relações familiares; luto e morte; interesses econômicos e heranças; cinismos; crianças; fingimentos; homossexualidade velada; amizades masculinas sob suspeita etc.
Prestem atenção quando o sogro olha para o belissímo corpo da personagem – La Taylor – e diz: “- Nesse corpo corre vida!”.
Ela está mentindo que espera um filho do marido – desesperado pela amargas lembranças do amigo, seu único referencial de existir.

· ”Roberto Carlos em ritmo de aventura” (BRA)
Por incrível que pareça esse filme do Roberto é excelente – não apenas pelos saudosista do ídolo da Jovem Guarda, mas ainda assim muito romântico. Ele se mostra tímido, mas bom ator nesse seu primeiro papel para o cinema dirigido por Roberto Farias.
Temas: Amor; banalidade cotidiana; bom e mau/ bandido e mocinho; solidão adolescente; fixação pela imagem materna; feitiches: carros, botas etc.
Filme bem pautado em Help dos Beatles, o que coloca em xeque se houve originalidade ou não à Jovem Guarda – enquanto movimento artístico.

· "Tristezas do Jeca" (BRA)
Filme com Amácio Mazzaropi (1912-1981) de 1961 – dirigido também por esse famoso ator que fez linhagem com o personagem Didi, único de Renato Aragão.
Dois coronéis disputam apoio político do Jeca, que tem uma bela e ingênua filha querendo casar. Jeca faz com que pensem que ambos os políticos têm seu apoio.
Temas: ingenuidade; geitinho brasileiro; malandragem; corrupção etc.
Boa música - sertaneja.

· ”Talentoso Ripley” (EUA)
Um jovem e belo – Matt Damon – não deseja ser si mesmo. Deseja e é o outro. Eu quero ser o outro, parece dizer o personagem Ripley, que se apixona pelo outro de si.
Belissímo filme.
Esquizofrenia?
Pós modernidade nesses lugares? Nesses não lugares – sempre de passagem está Ripley?
Histrionismo?
Super-representação?
Pústula?
Homossexual mau resolvido?

· ”Beto Rockfeller, o filme” (BRA)
Direção: Olivier Perroy; argumento: Cassiano Gabus Mendes; roteiro: Bráulio Pedroso – autor da orininal telenovela; montagem: Lúcio Braum; Atores e atrizes: Luiz Gustavo, Plínio Marcos, Lélia Abramo, Cleide Yáconis, Walmor Chagas, Otelo Zeloni, Mila Moreira, Raul Cortez e outros.
Um clássico da novela – da antiga TV TUPI, na versão preto e branca de 4 de novembro de 1968 a 30 de novembro de 1969 – no cinema em 1970. Um mau carácter é o herói. Isso aconteceu na TV e o cinema tenta – e nem sempre consegue – captar esse clima em pleno governo militar.
Luiz Gustavo – jovem e com um rosto bonito, apesar de comum – prova seu talento. Vive com o sobrenome Rockfeller – família de milionários norte-americanos, poderosos e de franco domínio mundial.
Também trabalha como ator – na pele de Vitório – o dramaturgo Plínio Marcos – “Dois Perdidos Numa Noite Suja” e “Abajour Lilás” entre outras peças. Vitório era o melhor amigo de Beto Rockfeller (Luiz Gustavo). Em entrevista concedida à Folha, em 1993, Plínio afirmou: "nunca gostei de trabalhar. Só fiz 'Beto Rockfeller' para não ficar órfão – a gíria "ficar órfão" significava cair nas garras dos militares. Bete Mendes – lindissíma na juventude, também fêz Beto como Renata e “O Rebú” para não ficar órfã, apesar de ter sido presa e torturada – como revelou depois. Continua Plínio na Folha: “Quando me ofereceram o papel, pensei: se aceitá-lo, ganharei evidência. E, enquanto estiver em evidência, os milicos não me pegarão”.
Renato Roschel (2004) informa que Plínio era uma pedra no sapato dos militares que governavam o país. Ele o viam como um "inimigo do sistema". Seu crime? As peças "Dois Perdidos numa Noite Suja" e "Navalha na Carne", escritas entre 1966 e 1967.Para os militares, peças que traziam um mundo sem meias palavras, direto e convincente, que davam tratamento dramático à realidade de prostitutas, gigolôs e bandidos, poderiam servir à subversão. Sob o governo militar, "Barrela" também foi proibida, e, em 1970, "Abajur Lilás" foi censurada. (As duas obras só seriam liberadas em 1980.)Com todas as suas peças proibidas pelo regime militar, Plínio quase desistiu da carreira de dramaturgo.Na década de 80, quando o regime militar terminou e suas peças foram liberadas, Plínio novamente surpreendeu. Escreveu as peças "Jesus Homem" e "Madame Blavatsky" nas quais mostra um seu lado mais espiritualista. Em 1985, ganhou os prêmios Molière e Mambembe pela peça "Madame Blavatsky".
Entre suas obras estão: "Barrela" (1958), "Dois Perdidos Numa Noite Suja" (1966), "Navalha na Carne" (1967), "Quando as Máquinas Param" (1972), "Madame Blavatsky" (1985); “Rainha Diaba” (levada ao cinema em 1974, com Milton
Gonçalves, como um gay “a lá” Madame Satã).
Segundo o crítico e historiador de teatro, Décio de Almeida Prado (in Roschel, 2004), "Plínio tinha uma experiência humana ligada às classes pobres e levou esse mundo para o teatro, até então em grande medida desconhecido. O teatro dele não era exatamente político, de pobres contra ricos, mas trazia uma experiência amarga dos pobres, e isso representou uma grande novidade. 'Navalha na Carne' é uma peça com muita força, com três excluídos que sofrem e nos fazem sofrer".
Beto é o maior marco da telenovela – segundo alguns estudiosos da História da Televisão brasileira - que se repetia em temas mexicanos encontrando respaldo na cubana Glória Magadan – que fez estrêlas Yoná Magalhães e Carlos Alberto.
Temas: outros tipos e possibilidades de heróis; mau-caratismo; malandro brasileiro; amizade entre homens; etc.

· ”O tempo não para” (BRA)
Tema: O medo – ou não – da morte. Terminalidade e criatividade. Resistência umunológica e sentido da vida – muito além da aparência estética. Uso de drogas. Vontade de viver. Relação mãe e filho. Costumes e valores de um tempo – que não para. Sexualidade.
Aborda a bissexulidade em um sentido não preconceituoso, “(...) esse filme mostra ao professor a realidade do sofrimento humano e as possibilidades de se criar a partir dessa vivência (...) Ajuda ao professor também a trabalhar em si e nos seus alunos o preconceito aos gays, porque ‘rola sentimento’ e não apenas sexo por sexo. O gay é mostrado como ser de sentimentos e não um objeto, um ser na sociedade e História” (Carolina Moraes, capixaba de Vitória ES – pedagoga e estudante do Curso Normal Superior).

· “Invasões bárbaras” (FRA)
Doenças terminais. Opção de viver e de morrer. Relação pai e filho; professor e aluno. Questões políticas na construção da subjetividade. Choque entre estilos diferentes de vida.

· “Xixa da Silva”
Ações afirmativas de minorias. Negritude. Resiliência.
Zezé Mota – a maior estrela e diva negra do Brasil – está excelente. Prestem atenção quando a sua roupa cai, e a música de Jorge Bem Jor começa a tocar. Ali está uma estrêla!

· “Metropolis”(ALM) de Fritz Lang.
Filme de 1927, (re)visto com a música do ‘Queen’ – rock inglês. A cidade grande, o consumismo, a destruição de si e do outro, mecanicismo, domesticação dos corpos, capitalismo etc. Dominação das subjetividades. Fsantasia e fuga da realidade cruel.

· “Ópera do malandro” (BRA)
Malandragem, amor, suborno e marginália embalados pela belissíma música de Chico Buarque de Hollanda.

· “A mãe” (RUS) - de Vsevlod Pudovkin (1926)
Baseado em Máximo Gorki. Relação mãe-filho. Subjetividade e mudanças sociais. Na literarura: Um clássico. No cinema: Uma obra-prima, segundo Claude Beylie (1987).

· “O homem que copiava” (BRA) – de Jorge Furtado
André tem 20 anos e o segundo grau incompleto. É operador de fotocopiadora na livraria e papelaria J. Gomide, no 4º Distrito, em Porto Alegre. Mora com a mãe. Gosta de desenhar e gosta de Sílvia. André precisa desesperadamente de trinta e oito reais. Sílvia tem 18 anos. Estuda à noite e trabalha como balconista numa loja de roupas femininas. Mora com o pai, gosta de ler e não é muito de figo. Sílvia marcou um encontro no alto do Corcovado e não pode faltar. Marinês trabalha na papelaria, com André. Namora, mas não muito, um alemão que vive na Holanda. Marinês fica muito bem em vestidos que não tem dinheiro para comprar. Cardoso faz tudo por ela. E Marinês faz de tudo ou quase tudo com ele. Cardoso parou de fumar, há dois dias, a pedido de Marinês. Ele nem está sentindo muita falta do cigarro - só às vezes, depois do almoço. André faz muitos planos para conseguir dinheiro. E todos dão certo.

· “Armiño Negro” (ARG) de Carlos Hugo ChristensenUm filme argentino realizado em 1952, e lançado em 1953.
Uma mãe – que prostituí com clientes ricos e burguêses – cuida bem do filho, que – já adolescente - ao descobrir o ofício materno suicida-se.
A frase final – dita por um padre à mãe - ficou célebre: “Os pais pagam pelos pecados dos filhos”. Pura moral judaico-cristã.
A Argentina é realmente - depois da França – o país mais psicanalítico do mundo.
O filme é super-representado - muito mexicano pois – por isso muito atual.
Atenção para a beleza da atriz principal – famosissíma na História do Cinema argentino – Laura Hidalgo. O galã maduro é Roberto Escalada.
Temas: preconceito e dinheiro; poder das igrejas na construção do auto-conceito e da auto-estima (subjetividades); impacto desse processo preconceituosos no rendimento acadêmico etc.

· “Tudo sobre minha mãe” (ESP) – de Pedro Almodóvar
Temas: Profissionais de saúde e inversão de papeis: quando se transformam em pacientes; escolha profissional – a do filho, em ser escritor; AIDS; Doação de Órgãos; tolerância; revisão de vida; cinismo; ser mulher; bondade de estranhos etc. O Brasil é citado pelo travesti: “Pitangui”, fala com charme acerca desse famoso cirurgião plástico, sinônimo da subjetividade pós-moderna de ser alguém diferente de si.
Numa noite chuvosa, mãe e filho estão à espera – na porta de um teatro – da saída de Huma Roja, famosa atriz espanhola, que acabou de interpretar a louca professora de “Um bonde chamado Desejo”. La Huma - a belíssima atriz Marisa Paredes - sai brigando com seu “caso”/ namorada, uma aspirante a atriz, muito talentosa, mas temperamental por ser viviada em drogas. O menino sai correndo atrás para pedir um autográfo “a la dama del teatro”. Chove e os asfalto está molhado e deslizante. Huma olha para traz e vê o olhar sentido do fã – veja e lembre-se do trecho em que Bette Davis descreve um fã: uns cães que ladram e que querem roubar teu sangue, maléficos que são.
Naquele afã, ele não consegue o autógrafo e um carro o atropela e o mata. A mãe –que trabalha numa equipe de saúde que objetiva convencer ao vivo/ parente a doação de órgãos do morto – em desespero, corre e cobre a câmara com seu casaco vermelho, substituto do sangue. Significa: Uma mãe dáseu sangue ao filho. O choro é doloroso, e nunca um choro materno foi tão contundente como nesse filme!
Justo naquela noite o filho ia ser agraciado com outro presente: Conhecer tudo sobre seu pai!
O menino ganhou apenas o livro de Truman Capote – escute e interprete o prefácio do livro lido pela mãe – e a peça de teatro. Faltou o autógrafo e o conhecimento do pai.
Ele morre e deixa um presente para a mãe: Seu diário, onde conta sua itinerância em busca de sua vocação, a de ser escritor.
Uma mãe constrói o ofício do filho – ver Pinel (2001).

· “Fale com ela” (ESP) – de Pedro Almodóvar
Sobre o Cuidado e o cuidar. Os modos do ser humano cuidar dos seus modos de cuidar, para cuidar do outro, dos objetos, do mundo. Um enfermeiro, um amigo e uma mulher. Questões ética. Excelente participação – como em um clipe – de
Caetano Veloso, com direito aos dois atores principais de elogiá-lo. Há uma citação de um poema de Tom Jobim, de modo parecer tratar-se de um filósofo – que de fato, sob determinada ótico é. Numa tourada escutamos a voz de Elis Regina.

· “Bent” (EUA)
História sobre preconceitos, anti-semitismo, Nazismo, perseguição, amor, promiscuídade de Berlim em tempos de repressão nazista, negação de si mesmo e do amor, traição, assunção de si, subjetividade em tempos de totalitarismo etc.

· “Desprezo” (FRA)
Temas:corrupção, ambiente artístico, arte e consumo etc. Prestem atenção no desempenho de Brigitte Bardot – mais linda do que nunca. A cena em que ela desce a escada e repete “desprezo” é copiada por muitos outros cineastas e pelo povo francês – onde o cinema é muito popular.

· “A estrêla sobe”
Temática: Como se institui ou se constrói uma vocação? Ascensão de uma pessoas que se propõe cantora; o que é orientação profissional? É uma missão? É luta, é esforço. É concessão. Existirá vocação?
Melhor filme de Bete Faria – uma grande estrêla da TV, mas uma atriz em suspeita. Ela brilha nesse filme.

· “ Terra em Transe”
Filme de Glauber Rocha (1967), com Jardel Filho, Glauce Rocha, Paulo Autran.
Diz Setaro que ainda não se pode deixar de ver/ sentir esta obra-primíssima que retrata, num painel alucinante, o terremoto da política brasileira.
Obra de grande impacto em sua mise-en-scène, com seqüências audaciosas, é, também, um canto agônico, onde um poeta - dividido entre a política e a arte, no processo de sua lenta morte, após um tiroteio numa estrada, repassa o seu pretérito.
O filme, portanto, tem sua ação localizada na mente desse personagem enquanto dá seus últimos suspiros. Surpreendente sob todos os aspectos.

· “São Paulo S/A”
Película de Luís Sérgio Person (1965), com Walmor Chagas, Eva Wilma, Otelo Zelloni.
Setaro comenta. Vamos sentir?!
O Cinema Novo se desloca, aqui, do campo para a cidade.
Person realiza uma obra delicada e sensível onde a cidade paulistana se integra no conflito audiovisual, inserindo-se na estrutura narrativa do filme como um personagem.
Esta incorporação do ambiente ao tecido dramatúrgico é rara na cinematografia. Centro da metrópole, em plena era de industrialização, um homem perdido à procura de um sentido para a sua existência.
Exemplar!

· “ O Bandido da Luz Vermelha”
,Direção: Rogério Sganzerla (1967), com Paulo Villaça, Helena Ignêz, Luiz Linhares.
Carro-chefe do chamado Cinema Marginal - ou underground ou, ainda, udigrudi.
Um faroeste do Terceiro Mundo, na definição de seu autor, obra de estréia em longa metragem, um filme único na cinematografia nacional.
As imagens, desordenadas mas com uma cadência rítmica explosiva, aparecem, na estrutura narrativa, como a ilustração de um programa de rádio de classe Z.
Duas vozes narram a trajetória de um perigoso marginal da periferia paulistana.
O que se pode ver, neste filme extraordinário, é a apreensão, por um jovem cineasta de 21 anos, do melhor cinema praticado em décadas anteriores.
Radiofônico, como Welles, sincopado em sua montagem, como Godard, mas de uma boçalidade exclusivamente brasileira.
O autor assume a bregüice nacional com uma total non chalance, proporcionando, com isso, um retrato esculhambado por excelência, mas inteligentíssimo como expressão da arte do filme.

· “A Hora e A Vez de Augusto Matraga”
De Roberto Santos (1965), com Leonardo Villar, Jofre Soares.
O realizador venceu uma batalha mais forte do que a do seu personagem: adaptar, com poder de convencimento, uma obra de Guimarães Rosa.
Problemas de especificidades lingüísticas à parte, o fato é que o filme é deslumbrante na tentativa de descrever o universo rosiano por meio da força de um outro signo expressivo: o da linguagem cinematográfica.
Um grande momento para o Cinema Novo e para todo o cinema brasileiro.
Leonardo Villar – famoso ator - está como que inexcedível no papel título.

· “Absolutamente Certo”
De Anselmo Duarte (1958), com Dercy Gonçalves – maravilhosa - Anselmo Duarte, Odete Lara – lindissíma.
Em pleno domínio da chanchada, o maior galã do cinema nacional da época dirige o seu primeiro longa.
O resultado fica acima da expectativa, pois uma inteligente comédia de costumes que retrata, com graça e humor, a classe média paulistana.
Mas, mais importante que isso, é o cinema ágil, engraçado, com excelentes transições, de um ritmo frenético que acaba por funcionar como um trabalho que ultrapassa o espírito de sua época.
O realizador, anos depois, conquistaria a cobiçada Palma de Ouro no Festival de Cannes com “O Pagador de Promessas”.
Mas é aqui que se encontra o melhor do cineasta.

· “Vidas Secas”
De Nelson Pereira dos Santos (1964), com Átila Iório, Maria Ribeiro. Adaptação do romance homônimo de Graciliano Ramos.
Poucas vezes o cinema e a literatura puderam se dar as mãos em harmonia como nesta obra cinematográfica.
O livro parece um indicativo das imagens em movimento pela sua linguagem seca, sem floreios.
O diretor, precursor do Cinema Novo - Rio, quarenta graus, Rio Zona Norte, soube apreender as indicações da escritura romanesca, transformando-as em pura linguagem fílmica.
Desde a fotografia sem filtros, que denuncia a aridez da paisagem e o sol dominador, passando pelas rigorosas interpretações de Átila Iório e Maria Ribeiro, até o clímax da morte cansada da cadela, tudo é luz e maravilhamento.

· “Noite Vazia”
De Walter Hugo Khoury (1964), com Mário Benvenutti, Norma Bengell, Odete Lara, Gabrielle Tinti.
Um autor original no panorama do cinema brasileiro que, muito criticado pelos cinemanovistas pelas influências de Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni, conseguiu, como poucos neste país, revelar-se um verdadeiro autor na expressão exata do vocábulo.
Com um universo ficcional próprio e um estilo particularíssimo, com cada obra singular sendo uma variação de um mesmo tema - o macrofilme, que é toda a sua filmografia, Khoury enfrentou incólume as turbulências da crítica e hoje está estabelecido como um dos maiores cineastas brasileiros.
Noite Vazia investe na noite de São Paulo com seus personagens amargurados à procura de um significado para as suas existências desiludidas. Mas o que se faz notar no filme é uma emergência poética a cada instante, um domínio formal impressionante na condução da mise-en-scène. A seqüência da chuva na janela, em montagem paralela com as mulheres deitadas e o ovo que se estala no fogão, é uma das mais belas do cinema brasileiro.

· “Todas as Mulheres do Mundo”
De Domingos de Oliveira (1966), com Paulo José, Flávio Migliaccio, Leila Diniz, Ivan de Albuquerque, Irma Alvarez.
Nenhum filme brasileiro revelou tão bem o espírito de uma época como este delicado poema à mulher amada de um realizador em sua primeira incursão no universo das imagens em movimento.
Domingos se encontra em sua quintessência, dotado de um singular humor e uma capacidade intuitiva rara no estabelecimento de uma poética sobre o seu tempo.

· “Limite”
De Mário Peixoto (1930), com Olga Breno, Taciana Rei, Raul Schnoor. Clássico absoluto do cinema brasileiro.
Um filme que não se compara mas se separa.
Três pessoas viajam sem destino num barco e relembram o passado. Filme-mito, que provocou estesia e polêmica, realizado ainda na estética da arte muda por um jovem realizador que estreava, aqui, na direção cinematográfica e depois desse filme se trancou numa ilha para sempre. Obra essencial, visual, puro cinema, ou o cinema como música do olhar